A famosa canção natalina “Jingle Bell Rock” tem como tradução literal “Bate o sino do rock”. O termo “rock” pode ser traduzido como rocha, pedra, rock como o ritmo musical, balanço ou agito. Depende do contexto. O título dessa matéria tem a intenção de colocar a fome como o principal “agito” do ano de 2021. Portanto, bate o sino ao agito da fome.

A crise econômica causada pela pandemia de Covid-19 agravou a situação financeira e a segurança alimentar de milhões de brasileiros. Campanhas de arrecadação se proliferam em todas as cidades. Panetones, árvores de natal e grandes ceias não são as opções de hoje para milhões de cidadãos.

Uma pesquisa realizada pelo Instituto DataFavela, entre 9 e 11 de fevereiro de 2021, para medir os impactos da pandemia de Covid-19 entre as pessoas que residem em favelas, mostrou que 68% delas não tiveram dinheiro para comprar comida em ao menos um dia nas duas semanas anteriores ao levantamento. A pesquisa foi feita com 2.087 pessoas maiores de 16 anos de 76 favelas em todos os estados.

De acordo com outra pesquisa do Instituto DataFavela, 92% dos moradores de favelas do Brasil que receberam alimentos doados não teriam conseguido colocar comida na mesa sem as campanhas. A solidariedade foi um dos meios de amenizar a tragédia da fome.

Já uma pesquisa do PoderData, realizada entre os últimos dias 6 e 8 de dezembro, mostrou que 27% dos brasileiros afirmaram ter passado fome ou comido menos durante a pandemia de Covid-19.

Em uma enquete realizada pelo Site Miséria, com resultado divulgado em junho deste ano, 451 de 632 votantes (71%) afirmaram que haviam deixado de comprar algum item da cesta básica por conta da crise econômica causada pela pandemia.

De acordo com a pesquisa Olhe para a Fome, divulgada pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional em 5 de abril deste ano, cerca de 19 milhões de brasileiros chegaram a passar fome no último trimestre do ano de 2020.

“Tenho recebido diariamente pedido de ajuda e sempre dou um jeito de ajudar”

A advogada Derineide Barboza, de Juazeiro do Norte, atua na Frente Juazeiro Sem Fome. Com a ajuda de amigos, doadores e colaboradores, realizou, durante o ano de 2021, campanhas de arrecadação em sua casa e também na modalidade drive-thru. Depois de organizar as cestas, saía com colegas para distribuir em áreas carentes do município.

“Eu já faço trabalho social junto a mulheres em situação de vulnerabilidade. Aí, a gente conversando, o companheiro Matheus teve a ideia da criação da Frente Juazeiro Sem Fome. De lá para cá fomos pedindo doações e doando amor”, conta a advogada.

Ao Site Miséria, Derineide se refere à situação da realidade contemporânea brasileira como “caos”. Ela reconhece o peso da pandemia na situação que já não vinha sendo fácil antes do período pandêmico. “Chega a pandemia para acirrar os problemas sociais e, além da mortandade, veio a fome e o desemprego”.

Derineide nos relata que as doações têm diminuído. “Tem diminuído, mas continuo pedindo aos amigos e fazendo doações diante das nossas limitações. Eu, Matheus, Rosângela e Ademar ficamos à frente da Juazeiro Sem Fome”.

“Tivemos momentos de muita emoção. Quando entregamos cestas numa rua bastante carente, nas Timbaúbas, ficaram algumas famílias sem receber porque não tinham se cadastrado. Fomos entregar em outros bairros e não encontramos os endereços. Voltamos para a mesma rua e as crianças correram todas para a porta do carro e seus olhos brilhavam. Eu me emocionei muito”, relata Derineide.

Por fim, a advogada ressalta que a campanha continua e informa como as pessoas podem realizar doações. “Nunca recebemos apoio do poder público. Quem nos ajuda são os amigos. A Frente Juazeiro Sem Fome continua precisando de ajuda para amenizar a fome das famílias em situação de vulnerabilidade. Estamos arrecadando. Para doar, basta entrar em contato através do WhatsApp (88) 99965-3164”.

Fome Rock

Neste ano de 2021, o desespero de famílias foi nitidamente crescente. A crise causada pela pandemia de Covid-19 tem castigado milhões de vidas brasileiras. O Site Miséria noticiou campanhas de ajuda como nunca. Apenas a solidariedade e a promoção efetiva de políticas públicas podem amenizar a sangria da cidadania brasileira e da dignidade humana.

“Cada dia a natureza produz o suficiente para nossa carência. Se cada um tomasse o que lhe fosse necessário, não havia pobreza no mundo e ninguém morreria de fome”

- Mahatma Gandhi