
Foto: Ascom Diocese de Crato
A Romaria de Santa Cruz, que acontece na comunidade do Caldeirão do Beato José Lourenço, em Crato, agora compõe o Calendário Oficial do Estado do Ceará. A inclusão foi aprovada no último dia 30 pela Assembleia Legislativa do Ceará (ALCE). O projeto de lei é de autoria do senador Renato Roseno (PSOL).
O evento é realizado desde o ano 2000, sempre no quarto domingo de setembro e reúne cerca de 5 mil pessoas. Os participantes relembram a história das centenas de flagelados que foram recebidos no local durante a seca, ainda no início do século XX e foram dizimados pelas Forças Armadas em 1937.
A Romaria é organizada pela Diocese de Crato, entidades eclesiais de base e organizações da sociedade civil que tem como bandeira a defesa da agricultura familiar e do meio ambiente. A partir destes debates, nasceu a Semana Ecos do Caldeirão, que também foi incluída, através do PL, no calendário oficial do estado.
O evento hoje é organizado com apoio da Universidade Regional do Cariri (Urca), Secretaria de Cultura de Crato, Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Crato, Assentamento 10 de abril, Organização Caldeirão Vivo e da Associação Cristã de Base (ACB).
HISTÓRIA
No final do século XIX, o agricultor José Lourenço Gomes da Silva, peregrino paraibano, migrou até Juazeiro do Norte e se tornou beato de confiança do Padre Cícero. O sacerdote havia arrendado uma terra do Sítio Baixa Dantas, no município de Crato, o local abrigou flagelados que chegavam ao Cariri para que pudessem prosperar na agricultura comunitária, assim como na fé, as atividades seguiram até 1926, quando as terras foram vendidas.
Diante da situação, Padre Cícero cedeu uma de suas propriedades na fazenda conhecida como “Caldeirão dos Jesuítas”, o local que teria sido esconderijo de jesuítas no século XVIII, onde recomeçam o trabalho comunitário com base na religião e partilha da produção de forma igualitária, com a liderança de Lourenço. O excedente foi utilizado para a compra de outros produtos, como remédios e querosene.
A seca de 1932, foi uma das mais duras que atingiu o Nordeste, e impulsionou o crescimento do lugar, que chegou a receber 1.700 pessoas. Temendo que a comunidade se tornasse um movimento messiânico, em 1936, o Governo Federal ordenou a primeira invasão ao Caldeirão, dispersado por forças policiais. Oito meses depois, as Forças Armadas destruíram o lugar, alguns sobreviventes fugiram. Vitimado pela peste bubônica, José Lourenço faleceu em Exu, Pernambuco, em 1946.