Quem circula por Juazeiro do Norte percebe, com o passar dos anos, o aumento de pessoas em situação de rua, especialmente nas proximidades de mercados, rodoviária, praças públicas e outros pontos de grande circulação. Adultos, jovens e, por vezes, famílias inteiras enfrentam diariamente os impactos de vulnerabilidades socioeconômicas, sem ter um lar para os acolher.

Desde 2022, o município conta com o trabalho do Consultório na Rua (CnaR), serviço do Sistema Único de Saúde (SUS) voltado à promoção do cuidado e da atenção integral à saúde da população em situação de rua. Hoje, o CnaR atende 426 pessoas. Em três anos de atuação, as duas equipes já realizaram mais de sete mil atendimentos, que vão desde a assistência básica, como aferição de pressão e testes rápidos, até encaminhamentos para serviços especializados, como os Centros de Atenção Psicossocial (Caps).

Além da atuação em saúde, parte da realidade das ruas em Juazeiro do Norte é acompanhada por políticas públicas específicas. Segundo Fernando Medeiros, diretor da Proteção Social Especial da Secretaria de Assistência Social (SAS), um dos aspectos que marcam o perfil dessa população na cidade é o grande número de migrantes. “E aí, diante do trabalho que a gente realiza, diante das identificações que a gente realiza, o que a gente percebe? Que grande parte das pessoas que estão em situação de rua no município de Juazeiro do Norte são migrantes, são pessoas que vieram de outras cidades, de outros estados, em busca de melhores condições de vida e aqui ficaram”, afirma em entrevista ao Portal Miséria.

Foto: Ascom / PMJN.

A ampliação desse cenário não é um fenômeno isolado da cidade. De acordo com o Observatório Brasileiro de Políticas Públicas com a População em Situação de Rua, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o número de pessoas nessa condição cresceu 25% em todo o país. Em Juazeiro, a presença desse público é cada vez mais visível em locais como a Praça Padre Cícero, a Alameda e a Praça do Socorro. “Aumentou muito, é uma situação triste né, ver essas pessoas assim sem perspectiva”, diz Seu Antônio, frequentador da Praça.

À época da divulgação dos dados, o coordenador do Observatório, André Luiz Freitas Dias, explicou em entrevista à Agência Brasil que o aumento pode estar relacionado tanto ao fortalecimento do CadÚnico como ferramenta de registro e acesso a políticas sociais, quanto à ausência ou insuficiência de políticas de moradia, trabalho e educação voltadas para essa população.

Em Juazeiro do Norte, além do CnaR, outras ações integram a rede de proteção social, como o Centro POP, que oferece acolhimento especializado por meio de uma equipe multiprofissional, incluindo assistentes sociais, psicólogos e assessoria jurídica. 

A cidade também conta com a Pousada Social, que oferece acolhimento provisório a pessoas em situação de rua expostas a risco pessoal e social.“Enquanto política pública, a gente não pode realizar um trabalho coercitivo, um trabalho higienista, não é aquela lógica de simplesmente tirar essas pessoas de um espaço público, simplesmente porque a sociedade está desconfortável com aquilo, não, pelo contrário, a gente precisa sensibilizar, a gente precisa orientar, a gente precisa realizar um trabalho que garanta o direito dessas pessoas, seja esse trabalho a curto prazo, a médio, a longo prazo”, ressalta Fernando.

Como uma das ações, o projeto social ‘Recriando Oportunidades’ oferece cursos de qualificação profissional para pessoas em situação de rua acompanhadas pelo município. “O nosso objetivo crucial é fazer com que essas pessoas possam construir novos projetos de vida, através de todas as articulações que são desenvolvidas, através da qualificação profissional, que também é possibilitada em parceria com o setor de trabalho e renda”, complementa Medeiros.

Nova lei municipal prevê atendimento especializado a pessoas em situação de rua

Foto: Reprodução / Ascom Juazeiro do Norte.

Juazeiro do Norte sancionou recentemente a Lei nº 5.808/2025, que estabelece o atendimento periódico e especializado às pessoas em situação de rua. A medida determina que equipes multidisciplinares, das Secretarias de Saúde e Assistência Social, realizem o atendimento a essa população em instituições assistenciais do município. 

O objetivo da norma é realizar campanhas de prevenção à saúde e a aplicação de vacinas. De acordo com a lei, o atendimento deve ser realizado quatro vezes ao ano, em datas a serem definidas pelas secretarias para garantir a cobertura adequada e o acesso a serviços de saúde pública à essa população.