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A Fórmula 1 é um dos eventos de automobilismo mais assistidos do mundo, com cerca de 750 milhões de fãs. Durante anos, o esporte atraiu predominantemente um público masculino, mas esse cenário está mudando: as mulheres estão cada vez mais presentes na torcida e também nos bastidores da categoria.
Segundo pesquisa da Nielsen Sports, divulgada em dezembro de 2024, 41% do público da Fórmula 1 já é feminino, com destaque para jovens entre 16 e 24 anos, o grupo que mais cresce.
Desde 2017, sob a direção da Liberty Media, a F1 tem investido em estratégias para conquistar novos fãs. Além da forte presença nas mídias sociais, uma das iniciativas mais bem-sucedidas foi a série Drive to Survive, lançada em 2019 pela Netflix. A produção mostrou os bastidores do esporte, humanizou os pilotos e atraiu um público mais diversificado.

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A Liberty Media também vem ampliando a participação feminina no esporte e despertando o interesse de novas gerações, especialmente entre as jovens. Esse movimento inclui a valorização de blogueiras, repórteres e iniciativas voltadas para a promoção de pilotos mulheres.
Em 2023, a empresa lançou a F1 Academy, administrada por Susie Wolff, com o objetivo de oferecer a competidoras entre 16 e 25 anos a oportunidade de chegar a categorias mais altas do automobilismo. Outra frente importante tem sido a inclusão de mulheres nas equipes de corrida, em diferentes funções técnicas. Paralelamente, a chegada de pilotos mais jovens à Fórmula 1 também tem contribuído para atrair novos públicos e renovar o interesse pela categoria.
Mulheres na pista
Apesar desse avanço no público, a presença feminina dentro das pistas ainda é rara. A italiana Lella Lombardi foi a última mulher a disputar corridas na Fórmula 1, em 1976, e permanece até hoje como a única a marcar pontos na categoria. Ela estreou em 1974, no GP da Grã-Bretanha, e no ano seguinte disputou 12 provas, conquistando o sexto lugar no GP da Espanha, resultado que lhe rendeu 0,5 ponto.
Antes dela, apenas Maria Theresa de Filippis havia competido. Outras pilotos, como Desire Wilson e Giovanna Amati, tentaram participar entre os anos 1980 e 1990, mas não conseguiram se classificar.

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A grande aposta atual é a britânica Jamie Chadwick, tricampeã da W Series, criada em 2019 para promover pilotos femininas. Após o encerramento da W Series em 2022, Chadwick passou a competir no INDY NXT pela Andretti Autosport.
Em 2023 e 2024, fez história ao se tornar a primeira mulher em 13 anos a disputar uma temporada completa e a primeira a vencer em um circuito de rua na história da categoria, além de garantir um pódio no Indianapolis International Speedway. Durante sua temporada de estreia em 2023, marcou 262 pontos em 14 corridas. Atualmente, Chadwick atua também como conselheira da F1 Academy e embaixadora da Williams, reforçando seu papel de liderança dentro e fora das pistas.

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A febre da F1 no Brasil
Segundo pesquisa publicada em 2024 pelo IBOPE Repucom, cerca de 56% dos brasileiros com mais de 18 anos se declaram fãs de automobilismo, o que equivale a aproximadamente 65 milhões de internautas. A participação feminina registrou um avanço de 5 pontos percentuais, representando um crescimento de 15% nos últimos anos entre os fãs da modalidade.
Analisando especificamente o público feminino, o interesse das mulheres pelo automobilismo passou de 31% em 2019 para 46% em 2024, um aumento de 49% no período. Na Fórmula 1, a pesquisa indica que o público está cada vez mais jovem e com maior presença feminina, com cerca de 60 milhões de brasileiros conectados demonstrando preferência pela categoria.

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O crescimento da presença feminina também é perceptível nas redes sociais e nos próprios eventos. No GP de São Paulo, realizado em 2024, cerca de 36,9% do público presente era formado por mulheres. Além disso, a cobertura da Fórmula 1 vem contando com jornalistas femininas em destaque, como Mariana Becker e Julianne Cerasoli na transmissão ao vivo da televisão, e Alessandra Alves nas transmissões da Band News FM.
Do motor à moda e beleza
A cultura pop tem exercido grande influência na conquista de novos fãs da Fórmula 1 fora das pistas. Marcas de luxo passaram a adotar pilotos como embaixadores oficiais – como Charles Leclerc para a Armani e Lewis Hamilton para a Dior. Também se tornou comum o lançamento de coleções de moda inspiradas no universo da F1, com jaquetas semelhantes às usadas no grid, bonés com as logos de equipes como Ferrari e Mercedes e até tênis inspirados nos carros de corrida.
No setor de beleza, a Charlotte Tilbury tornou-se a primeira marca de cosméticos fundada por mulheres a patrocinar a F1. A iniciativa destacou as talentosas pilotas da F1 Academy, evidenciando suas conquistas e mostrando ao público as diversas oportunidades para mulheres no automobilismo, dentro e fora das pistas.

O carro da Rodin patrocinado pela marca Charlotte Tilbury|Foto: F1 Academy
Já marcas norte-americanas como Anastasia Beverly Hills e e.l.f. optaram por patrocinar diretamente pilotas, apoiando Bianca Bustamante e Katherine Legge, respectivamente. Essas parcerias vão além da exposição de marca: representam mudanças significativas no DNA comercial do esporte, refletindo a visão de Susie Wolff, diretora da F1 Academy, sobre a transformação em curso.
Para Wolff, o sucesso não está apenas em levar mulheres para competir na Fórmula 1. O verdadeiro impacto, segundo ela, é desafiar a percepção de que o automobilismo é um ambiente exclusivamente masculino, mostrando que há espaço para as mulheres em diferentes áreas do esporte.
A interseção entre moda, beleza e automobilismo abre novos territórios comerciais e, ao mesmo tempo, simboliza que as mulheres podem ocupar os autódromos do mundo sem abrir mão de sua identidade – seja com salto alto ou batom.

