Foto: Reprodução/Protótipo Filme
O estilista alagoano Antônio Castro, diretor criativo e fundador da marca FOZ, levou símbolos do Nordeste ao maior evento de moda do país. Em sua coleção “Povoado Poesia”, apresentada na última sexta-feira (17) durante a 60ª edição da São Paulo Fashion Week (SPFW), Castro utilizou fitas típicas de Juazeiro do Norte como um dos elementos centrais das criações. Este é o terceiro ano consecutivo que o designer participa do evento.

Foto: Adriano Damas
Inspirado na infância e nos simbolismos populares nordestinos, o estilista construiu uma cidade imaginária, tecida por lembranças afetivas e referências culturais. “Povoado Poesia conta a história de um povoado que não existe, mas que é construído a partir dos arquétipos e estereótipos de tudo o que a gente conhece dos interiores do Brasil”, explicou. “É uma costura de lembranças pessoais que me ajudaram a criar uma casca para atravessar e navegar o mundo”.
A ideia da coleção surgiu durante uma viagem de carro a São Paulo, quando o estilista avistou uma pipa no céu — imagem que inspirou a atmosfera lúdica das peças. As referências se estendem ao universo literário, com influências do realismo fantástico de Gabriel García Márquez e Jorge Amado, além de traços da animação “Atlantis: O Reino Perdido”.
Artesanato e fé

Foto: Gabriela Queiro | Fabrício Alarbace
Com cores vibrantes, bordados manuais e colaborações com grupos artesanais de diferentes regiões do país, as criações celebram o fazer manual como forma de expressão identitária. A FOZ tem o artesanato como base criativa, e nesta coleção, algumas peças foram confeccionadas com as fitas coloridas do Horto de Padre Cícero, símbolo de fé e devoção de Juazeiro do Norte.
Os convites do desfile também carregaram essa simbologia: vinham dentro de bonecos do Padre Cícero, criados especialmente para a ocasião. “Quando eu nasci, minha mãe prometeu que eu seria batizado na Igreja do Horto, mas ela não cumpriu sua promessa. Então, estou me redimindo por ela agora. Todos os convites estavam dentro do Padre Cícero”, contou o estilista em suas redes sociais.
Símbolo de promessas, pedidos e agradecimentos, as fitas amarradas à estátua do padroeiro juazeirense foram reinterpretadas por Castro como uma forma de exaltar a fé e a identidade do povo nordestino. Ao levar esses elementos para as passarelas da SPFW, o estilista deu visibilidade não apenas à devoção popular, mas também à potência cultural de Juazeiro do Norte, transformando tradição em arte contemporânea.

