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A pandemia deixa rastro de transtornos mentais

É fácil olhar ao nosso redor e perceber tantas pessoas em estado de alerta com a pandemia. Essa é uma reação típica e adequada para um cenário que coloca a nossa integridade física e a nossa vida em risco, portanto nos causa imenso estresse. Estar alheio seria se colocar em perigo, ficar mais suscetível à contaminação, pois tenderíamos a não tomar medidas de prevenção.

Diante de um estressor, as respostas de fuga e luta são naturais no meio animal, desde os espécimes mais primitivos. É condição necessária à sobrevivência. Através de uma reação do sistema límbico com o sistema nervoso simpático, o organismo se prepara para uma reação, inclusive nos tornando mais atentos, capazes de antever situações e criar estratégias de enfrentamento.

Esse mecanismo aparentemente tão perfeito pode ter sua dinâmica alterada dentro do contexto da pandemia, levando o indivíduo a um estado de alerta disfuncional, provocando grande sofrimento e sendo parte de inúmeros adoecimentos psíquicos, especialmente os transtornos ansiosos.

Várias são as características desse momento que causam estresse: o medo de infecção, a quarentena, a solidão, o tédio, perda financeira, notícias incessantes sobre o avanço da pandemia, os números de casos confirmados e de mortos, além do estigma de quem foi contaminado.

De acordo com uma publicação da revista especializada East Asian Arch Psychiatry, 42% dos sobreviventes da última epidemia de coronavírus, ocorrida entre 2002 e 2003 e que levou quase 800 pessoas à morte pela SARS (Síndrome Respiratória Aguda Grave), desenvolveram transtornos mentais, como estresse pós-traumático e depressão.

Muitas vezes os pacientes com transtornos mentais se encontram estáveis, levando a vida com naturalidade, mas às custas de um equilíbrio que se encontra no limite, ainda que bem adaptados às demandas de suas rotinas. A carga da nova situação (a pandemia em questão) exige um repertório a mais, tanto neuroquímico quanto de ressignificação da nova realidade. Encontram-se aí os elementos necessários para agudização de sintomas.

Além dos que já tem quadros bem estabelecidos e em tratamento, entram no grupo de risco as pessoas com vulnerabilidade genética ou com acúmulo de situações traumáticas mal elaboradas durante a vida.

Após esse pandemônio da pandemia, iremos rever a importância dada à saúde mental e mais uma vez fecharemos a porta somente depois de sermos roubados. Impossível não ficarem rastros de transtornos mentais na sociedade; o que podemos fazer enquanto indivíduos é buscar os cuidados no durante e reforçar a quebra de tabus no depois.

 

Dr. Thiago Macedo – Psiquiatra (Cremec:12661 / RQE: 7978)

Bacharelado em Medicina pela Universidade Federal do Ceará

Residência em Psiquiatria pela Secretaria de Saúde do Estado da Bahia – Hospital Juliano Moreira

Contato: (88) 98116-1998/ 99942-1999

thiagomacedo.psiquiatra@gmail.com

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