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Eventos traumáticos podem se perpetuar como doença mental

A sentença que intitula esse artigo é válida para inúmeras situações, desde violência doméstica, abusos psicológicos e sexuais, assaltos, acidentes de trânsito, catástrofes de grande repercussão, como o atentado do 11 de setembro, a fenômenos como a pandemia que estamos vivenciando e seus impactos diretos ou indiretos.

Ainda que superemos de modo temporal certos acontecimentos, o registro em nosso cérebro pode permanecer disfuncionalmente deflagrando inúmeros sintomas, especialmente os ansiosos e sendo forte preditor para um episódio depressivo.

Em outras epidemias, como a de SARS (síndrome respiratória aguda grave) na China, funcionários de um hospital em Pequim se submeteram a pesquisa que constatou em torno de 10% dos entrevistados experimentando altos níveis de sintomas de estresse pós-traumático desde o surto de SARS. As pessoas que foram colocados em quarentena, trabalharam em locais de alto risco  (como enfermarias) ou tiveram amigos ou parentes próximos contaminados eram 2 a 3 vezes mais propensos a apresentar altos níveis dos sintomas característicos de TEPT (transtorno de estresse pós-traumático) do que aqueles sem essas exposições.

O TEPT se encontra dentro do espectro dos transtornos ansiosos, ainda que alguns manuais diagnósticos já tenham o colocado como uma entidade a parte. O indivíduo acometido por esse transtorno revivência as memórias do ocorrido de várias formas, desde lembranças intrusivas e involuntárias, a sonhos angustiantes, “flashbacks” e até mesmo através de sinais internos ou externos que simbolizem ou se assemelhem a algum aspecto do evento traumático. Uma característica interessante dos quadros de TEPT é que o ocorrido nem sempre foi diretamente experimentado pelo indivíduo, mas testemunhado ou até mesmo ocorrido com entes queridos. A recordação desencadeia alterações neurofisiológicas e cognitivas.

Dentro desse contexto percebe-se esquiva e isolamento social, em que a pessoa foge de situações, contatos e atividades que possam reavivar determinadas lembranças, além de hiperexcitabilidade psíquica e psicomotora, como taquicardia, sudorese, tonturas, dor de cabeça, distúrbios do sono, hipervigilância, dificuldade de concentração, irritabilidade, por vezes com resposta de sobressalto exagerada e até mesmo comportamento imprudente ou autodestrutivo. Há alterações negativas em cognições e no humor associadas ao trauma que vão desde a uma possível incapacidade de recordar algum aspecto importante do evento à dificuldade persistente de sentir emoções positivas.

É importante estendermos a mão a quem passa por esse sofrimento, pois uma rede de apoio compreensiva colabora com a melhora. Outro ponto a se atentar é que a superação de situações traumáticas no passado não nos garante imunidade para TEPT em adversidades do futuro. Mais um motivo para não interpretarmos tal problemática com preconceito, pois a estruturação psíquica individual não é sabida antes de deflagrado qualquer transtorno mental.

Ainda que seja um quadro complexo, é importante ter em mente que existem inúmeras possibilidades de tratamento tanto com psicoterapia quanto com medicações, contribuindo para retomada da qualidade de vida.

 

Dr. Thiago Macedo – Psiquiatra (Cremec:12661 / RQE: 7978)

Bacharelado em Medicina pela Universidade Federal do Ceará

Residência em Psiquiatria pela Secretaria de Saúde do Estado da Bahia – Hospital Juliano Moreira

Contato: (88) 98116-1998/ 99942-1999

thiagomacedo.psiquiatra@gmail.com

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