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Na morte, que tenhamos sido felizes

Conversava com uma colega psicóloga sobre a morte, sobre a finitude como rota, e é desse ponto que surge esse texto. 

O filósofo que mais me inspira em suas reflexões sobre a morte é Epicuro. Em síntese, ele nos diz: “Por que temer a morte? Enquanto somos, a morte não é. Quando a morte é, já deixamos de ser.”

Felizmente, pensar sobre a morte não é uma constante durante a jornada terrena. Caso fosse, a vida se tornaria um grande calvário, um peso a ser arrastado e sequer suportaríamos viver. Logicamente, num momento ou outro, vem à mente: “se eu morresse, nada disso estaria acontecendo” ou “melhor morrer a passar por isso”, mas não é o que costuma predominar.

Nessa perspectiva, vemos que a morte não é um desejo prazeroso, mas uma fuga do desprazer, um caminho para se livrar de angústias para as quais ainda não foram desenvolvidas estratégias de enfrentamento. 

No contexto da saúde mental, ao ouvir uma pessoa que flerta com a morte ou a contempla como possibilidade, tendemos a buscar um transtorno psiquiátrico de base. Essa hipótese é estatisticamente bastante válida, porém, não é uma conclusão tão simples assim. A dinâmica que leva alguém a caminhar por esse trajeto é muito mais complexa. 

A cada instante, a cada minuto, a finitude se apresenta. Células morrem, momentos terminam e assim nos damos conta de que nada é permanente. O luto é parte das vivências, pois nenhuma delas se mantêm para sempre. Nesse movimento de iniciar ciclos e saber que iremos encerrá-los em algum ponto, encontramos o sabor da existência. Aqui se faz a vida, na experiência e em como a conduzimos. 

Há quem diga que as flores naturais são mais belas, porque as artificiais não morrem. Questiono: de que adiantaria o curto tempo daquelas, se não aproveitássemos seu cheiro e as sensações peculiares causadas? Perceba o quanto a vida mora no verbo “aproveitar”, como uma forma de extensão do sentir. Tanto que costumo dizer “sinto, logo existo”. 

Dar conta do presente e experimentá-lo da melhor maneira possível é um modo sábio de aceitar a morte como etapa necessária, mesmo que geralmente indesejada. E a vida? A vida é meio, é condução, é fazer a felicidade em instantes. 

Há muito para se apreciar no percurso de uma viagem. Por vezes, as emoções do caminho são mais intensas e nele se encontram as mais belas paisagens. Quanto sabor perderíamos se, ao ter destino certo, nos fosse imposta a antecipação da chegada?


Dr. Thiago Macedo – Psiquiatra (Cremec:12661/ RQE: 7978) 
Bacharelado em Medicina pela Universidade Federal do Ceará

Residência em Psiquiatria pela Secretaria de Saúde do Estado da Bahia – Hospital Juliano Moreira

Contato: (88) 98116-1998/ 99942-1999

thiagomacedo.psiquiatra@gmail.com

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