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Não se renda ao saber do século XXI

“Só sei que nada sei”. A célebre frase do filósofo Sócrates parece ter entrado para o rol dos clichês alardeados quando queremos demonstrar alguma afinidade com a leitura e a intelectualidade.

Ademais, o saber virou orgulho individual, mais um troféu de exposição de uma sociedade narcísica, que antes mesmo de se debruçar criticamente sobre uma temática, já alardeia pelos quatro cantos as suas conclusões definitivas, opiniões por vezes frágeis travestidas de verdades absolutas. É o império das certezas em um mundo que naufraga nas informações rápidas e nas teorias perecíveis.

As plataformas de busca e as redes sociais nos vendem a preço de banana uma sensação que pode nos custar demasiadamente caro. Acreditamos piamente na onipotência do nosso saber devido a rapidez com que acessamos a informação. Ter um punhado de dados, de estatísticas, de falas pela metade, quando não, de fake news, nos faz confundir opinião, “achismos”, com sentenças incontestáveis.

Isso envolve inúmeras temáticas, desde as ciências médicas, onde todos se entendem aptos a chancelar protocolos de tratamentos, às decisões da vida privada, quando muitos disseminam suas teorias garantidoras de felicidade. Sequer me atrevo a citar aqui os grandes teóricos da política ou da economia inspirados pelos seus aplicativos de mensagem, pois o objetivo não é polemizar.

Há um bombardeio de dados e uma ânsia em consumi-los, em “estar por dentro”. Uma angústia, por sinal, bastante ansiogênica. Além disso, e não menos preocupante, é que nossas opiniões se tornaram imperativos sentenciadores. É impossível deixar de citar o quão adoecedor tudo isso se torna; não apenas pelos conflitos, afinal, se muitos estão convictos de suas certezas e todos esses divergem com veemência entre si, sabemos onde isso vai dar, mas também pelo sofrimento de se deparar em dado instante com a realidade do “não-saber”.

É válido perceber os prejuízos escondidos na discrepância entre fazer questionamentos e perpetrar afirmações. O saber evolui às custas das indagações, das observações, da dúvida, do mergulho nos meandros, da dedicação à temática sobre a qual se quer concluir. De acordo com a citação que encabeça esse texto, sequer alcançaremos o saber, e ouso completar, com muito esforço, tocaremos o conhecimento.

Creio que se Zygmunt Bauman ainda estivesse entre nós, mudaria a sua teoria de mundo líquido para mundo gasoso, pois tem sido cada vez mais difícil dar alguma forma a essa sociedade.

Dr. Thiago Macedo – Psiquiatra (Cremec:12661 / RQE: 7978)

Bacharelado em Medicina pela Universidade Federal do Ceará

Residência em Psiquiatria pela Secretaria de Saúde do Estado da Bahia – Hospital Juliano Moreira

Contato: (88) 98116-1998/ 99942-1999

thiagomacedo.psiquiatra@gmail.com

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