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O dilema da angústia

Me impressiono como a angústia é um dos sintomas mais frequentes em consultório. Eis aí uma grande questão: é possível ser humano sem se angustiar?

Vai e volta e a angústia está ali, nas falas ou na expectativa das escolhas mais acertadas. Percebo então que ela não é somente um sintoma, mas premissa da condição humana, sintoma de ser humano.

Não consigo imaginar um cachorro angustiado pela decisão de qual ração escolher para comer, nem um leão angustiado pela dúvida de com qual leoa cruzar e formar família, muito menos me vem à mente um tatu sofrendo pela expectativa de qual toca deve recorrer como abrigo.

Desde os primórdios, os filósofos discorrem sobre essa temática e nem os antigos gregos nos concedem a fórmula decisiva para esse enigma. Nosso vício moderno por receitas esbarra mais uma vez na repetida e famigerada angústia.

Os estoicos até conseguem ser um tanto práticos e nos lançam a proposta da responsabilidade pelo que depende de nós e o exercício da aceitação com as variáveis que não podemos intervir. Ainda assim, encontraremos pedaços de angústia nos milissegundos de autorresponsabilidade.

E o que quero dizer com tudo isso? Seria esse texto uma ode à angústia? Não!

O objetivo principal aqui é reconhecer essa sensação de fragilidade como parte dos nossos dias, da nossa falta de certeza, da dúvida diante das posições que assumimos ao longo do tempo. De antemão não sabemos e esse não-saber é imanente a mim e a você.

Podem me perguntar: E toda angústia é somente essa, que nos confronta com nossa humanidade e nos expõe as limitações próprias da existência?

Não! Algumas angústias se perpetuam, são disfuncionais, se estendem ao longo de semanas, aí a ajuda profissional se faz necessária. Em quadros psiquiátricos, como na depressão e nos transtornos de ansiedade, é importante buscar ajuda.

Por fim, o melhor seria não se privar pela tal angústia. De qualquer forma ela estará presente, mais ou menos intensa, ela é companhia certa da nossa jornada na terra. Evitar a angústia seria evitar a dúvida, delegar as escolhas, procrastinar, seria, reconhecidamente, não colocar a vida para funcionar.

 

Dr. Thiago Macedo – Psiquiatra (Cremec:12661 / RQE: 7978)

Bacharelado em Medicina pela Universidade Federal do Ceará

Residência em Psiquiatria pela Secretaria de Saúde do Estado da Bahia – Hospital Juliano Moreira

Contato: (88) 98116-1998/ 99942-1999

thiagomacedo.psiquiatra@gmail.com

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