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“Preciso de um psiquiatra! E agora?”

Recebo diariamente, em consultório, pessoas bastante aflitas não só pelo sofrimento da doença mental, mas pela angústia simplesmente de estar ali. O bom é perceber o quanto essa tensão vai diminuindo ao longo da consulta, dando lugar à expectativa de um alívio que se estenda além daquela sala.

A consulta psiquiátrica deve ser baseada, acima de tudo, no que o paciente fala. Essa é a regra. A partir da narrativa da pessoa, o psiquiatra consegue realizar o detalhamento do exame psíquico (também chamado ‘exame do estado mental’). Esse é o instrumento mais importante para um diagnóstico assertivo, quando as funções psíquicas são corretamente percebidas, avaliadas e registradas. Aqui posso citar algumas dessas funções, começando pelo modo como o paciente se apresenta (as vestes, os cuidados com a aparência), passando pela averiguação da consciência, da atenção, concentração, memória, inteligência, humor, afetividade, do pensamento e seu conteúdo, da linguagem, a sensopercepção, o juízo crítico da realidade, a volição (vontade), o prazer, a prospecção (capacidade de projetar desejos pro futuro), a psicomotricidade, assim como sono, apetite e sexualidade. Tudo isso na consulta? Sim. Daí a necessidade de um profissional devidamente capacitado, que realize um atendimento minucioso, com uma escuta apurada.

A grande dúvida de muitos é sobre os exames. Primeiro, não se pode esquecer que o paciente é um todo bem complexo e há possibilidade do psiquiatra, com boa percepção e através do exame físico, encontrar alterações que levantem suspeita de doenças clínicas. Já sobre os exames complementares (laboratório, imagens, “eletro”), todos serão solicitados se o médico entender como necessário. Importante compreender que os resultados desse tipo de exame não são definidores do diagnóstico de doença mental, servindo sobretudo para excluir causas orgânicas com sintomas psiquiátricos. Não se deve esperar um diagnóstico de doença mental baseado exclusivamente por um exame desse tipo.

Além dos pontos anteriores, muita gente teme o olhar do psiquiatra, esquecendo que esse olhar é estritamente profissional e sem julgamentos morais, tão importante quanto os questionamentos que ele venha a fazer. Por isso, o médico que segue por essa especialidade precisa de uma boa capacitação e vivência na área para caracterizar as funções psíquicas. Engana-se quem espera uma entrevista estruturada, no estilo questionário, focada somente em sintomas, pois até isso pode prejudicar o diagnóstico. Então, além do preparo técnico, é de fundamental importância tornar o ambiente acolhedor e isso depende muito da autenticidade e da empatia do profissional. Criar vínculo com o paciente é o melhor caminho para deixa-lo à vontade e assim a conversa fluir naturalmente, gerando o valioso material que o psiquiatra examina.

Em resumo: calma, psiquiatra não é bicho de sete cabeças. Pelo contrário, sua atuação é indispensável tanto para o diagnóstico precoce de alguns transtornos mentais que não terão a mesma condução acompanhados por outros especialistas, quanto para conhecer e desfazer os mitos há tanto tempo disseminados entre nós.

Já é tempo de darmos espaço à realidade do sofrimento e do adoecimento psíquico, assim como as peculiaridades de sua abordagem.

Dr. Thiago Macedo – Psiquiatra (Cremec: 12661 / RQE: 7978)
Bacharelado em Medicina pela Universidade Federal do Ceará
Residência em Psiquiatria pela Secretaria de Saúde do Estado da Bahia – Hospital Juliano Moreira
Contato: (88) 98116-1998/ 99942-1999
[email protected]

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