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Renovar-se é o maior desafio

A realidade tem mostrado que a dinâmica outrora vigente era fracassada, mas sustentava-se pela ilusão da onipotência incutida em cada um, pela ideia distorcida do controle de tudo. Esse domínio ruiu perante um vírus. Bastou um tal pedaço de não-vida para novamente se exibir a tamanha fragilidade de nossas relações pessoais, do modelo econômico algumas vezes refeito, da nossa sanidade mental e do trato com a finitude.

Após tantos marcos catastróficos, a humanidade em si não conseguiu colocar as suas utopias em prática. O utópico guarda o intocável. Quem sabe precisemos sair dessa dimensão.

Ainda que algumas relações políticas, econômicas ou de Estado, tenham contidamente mudado; a índole humana, a reestruturação de virtudes que beneficiem o convívio social, parece ter passado batido. Na fila das urgências, as prioridades foram diversas.

E a pergunta que não cala: A normalidade será outra? Cada um dará a sua resposta. Impossível formalizar essa nova normalidade quando se trata de mudanças pessoais e intransferíveis. O que podemos vislumbrar é uma nova tendência em alguns contextos.

O mundo, por maior que seja a diversidade entre culturas e países, vivia num delírio bem sedimentado que não cedia a qualquer argumentação. Eis que veio um trauma e fez um corte de cima a baixo nessa cortina que enfeitava o teatro da humanidade.

Será preciso repensar a posição do Estado como articulador do bem-estar social, fugindo da tentação do controle da vida privada. O alerta geral, o medo, a sensação de insegurança, podem ser um grande risco à liberdade, nos induzindo a trocá-la pela segurança e por governos centralizadores.

Claramente o virtual se coloca como tendência de possível proteção à integridade física e também reafirma a sua capacidade de potencializar os meios de produção, até mesmo flexibilizando as relações trabalhistas. Quem não se digitalizou até então será puxado à fórceps para o novo cenário. Alguns setores já veem o home office como sinônimo de sustentabilidade e de maior lucratividade.

Mais um ponto a se perceber é que o mundo globalizado vai requerer um maior cuidado no ir e vir das pessoas entre os países, além da necessidade de nações autossuficientes em determinadas áreas, como insumos da saúde, para não ficarmos reféns de negociações que prezem pelo lucro diante de situações de desespero.

Diante de tantas possibilidades e dessa forçada reinvenção, haverá uma grande urgência. Encontrar um lugar de cuidado com o outro, se não por generosidade, mas por necessidade de uma homeostase, de um funcionamento equilibrado da sociedade. Não adianta mais enxergar-se como único agente na própria história, nas conquistas ou na idealização de permanência. Há um grito estridente que alerta sobre isso e só não incomoda aos que possuem prejuízo na audição ética.

Não adianta o meu curso superior, sem uma educação básica suficiente para que o outro compreenda um evento de impacto mundial. Não me servem os milhões guardados se o outro não tem sequer o dinheiro para se manter numa necessidade de isolamento. A minha casa luxuosa de nada vale na aglomeração que ocorre dentro do barraco. O meu plano de saúde vira poeira se milhões adoecem e necessitam de leitos insuficientes do sistema público.

Outro ponto a ser revisto é o nosso excesso de positivismo. Vivemos entorpecidos pela meta da felicidade. Isso nos faz rejeitar momentos de entristecimento, ao ponto de nos colocar em risco pela negação do doloroso real que se exibe. O risco de morte nocauteia a não contemplação da finitude, vivemos o luto antecipatório, sendo que nunca aceitamos sequer os vazios da existência. É uma bomba relógio implantada em nossa psiquê.

Um teste às questões humanas. Um teste a nossa arrogância narcísica. Podemos até ousar, presumindo uma nova ordem mundial, mas o grande desafio da reinvenção individual    novamente está em evidência.

E aí, em que se baseia a sua nova normalidade?

 

Dr. Thiago Macedo – Psiquiatra (Cremec:12661 / RQE: 7978)

Dr. Thiago Macedo – Psiquiatra (Cremec:12661 / RQE: 7978)
Bacharelado em Medicina pela Universidade Federal do Ceará
Residência em Psiquiatria pela Secretaria de Saúde do Estado da Bahia – Hospital Juliano Moreira
Contato: (88) 98116-1998/ 99942-1999
thiagomacedo.psiquiatra@gmail.com
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