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Você está sozinho e isso não deve ser um fardo

Ler esse título é um tanto impactante e até angustiante para alguns. Estar só remete à solidão e essa palavra é desconfortante demais, quase sinônimo de sofrimento.

Perceber-se sozinho e sem tanto sofrer com a temática da solidão é um desafio sobre-humano e necessário. A presença constante do outro tende a camuflar nossas fraquezas ou a confundir o que é simplesmente nosso com o alheio. É tão doloroso que encontramos alívio na semântica e agregamos a palavra solitude ao nosso vocabulário, na tentativa de amenizar e entender a solidão como escolha.

A solitude pode então ser compreendida como  estar sozinho sem a dor do solitário, em determinados momentos de reflexão e de autoanálise, ou em ocasiões de fruição da própria companhia. É um exercício da arte de encontrar espelhos em tudo que se vê e assim não delegar o que lhe é próprio a outrem.

Alguns entenderão como pessimismo ou até niilismo, mas eu diria que solidão não é escolha, é premissa humana. Isso mesmo, nascemos assim. Ainda que siamês com um irmão, a prévia condição natural de abraçar a vida com a autonomia que nos foi delegada pela existência é essencialmente psíquica, e não determinada pela ligação anatômica.

Antes que me julguem, não estou fazendo apologia ao isolamento, mas ao entendimento da experiência única, individual e intransferível que é trilhar os caminhos da vida. A incompreensão dessa complexa temática tende a nos lançar em automatismos cotidianos, nos tornando robotizados, quase seres inanimados, fugindo constantemente das próprias angústias.

Outra possibilidade, quando incorremos na inocente fuga da solidão, é colocarmos outras pessoas como extensões de nós mesmos. Transformamos o outro em apêndice, em continuidade da nossa estrutura. Aqui mora um grande perigo: experimentar a dor do abandono ao ouvir um simples “eu não posso”, “eu não quero” ou “pra mim, já chega”. Enquanto na realidade, o outro é solitário como você, é independente, autônomo, segue e sente o curso da vida de modo também singular.

Cabe bem a essa altura citar a frase do poeta austro-húngaro, Rainer Maria Rilke, “amor são duas solidões protegendo-se uma à outra.” Ou seja, até mesmo em meio a um sentimento tão sublime, os envolvidos tem mundos próprios e precisam constantemente lidar com o seu eu-solitário.

Somos seres sociais, temos cérebros que necessitam de referências, mas o limite disso se encontra no acolhimento de si, no reconhecimento dos próprios processos, no engajamento com os propósitos pessoais, na compreensão das próprias fragilidades. É de se questionar a tal felicidade quando ela é totalmente refém, atrelada a objetos externos que a qualquer momento podem se distanciar de nós.

 

Dr. Thiago Macedo – Psiquiatra (Cremec:12661 / RQE: 7978)

Bacharelado em Medicina pela Universidade Federal do Ceará

Residência em Psiquiatria pela Secretaria de Saúde do Estado da Bahia – Hospital Juliano Moreira

Contato: (88) 98116-1998/ 99942-1999

thiagomacedo.psiquiatra@gmail.com

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