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Meio Ambiente

Yanne Vieira

Yanne Vieira é jornalista formada pela Universidade Federal do Cariri (UFCA). Possui pesquisas desenvolvidas nas áreas de Jornalismo Ambiental, Meio Ambiente e Ciência, com foco no território do Geopark Araripe. Desde outubro de 2021, jornalista do Site Miséria.

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Yanne Vieira

Yanne Vieira é jornalista formada pela Universidade Federal do Cariri (UFCA). Possui pesquisas desenvolvidas nas áreas de Jornalismo Ambiental, Meio Ambiente e Ciência, com foco no território do Geopark Araripe. Desde outubro de 2021, jornalista do Site Miséria.

A arriscada aposta do Ceará em combustíveis fósseis 
Em 2021, o Ceará assumiu o compromisso com a implementação de energias limpas e renováveis, sediando o Hub de Hidrogênio Verde (H2V) nacional. Pouco tempo depois, investimentos em termoelétricas movidas à gás natural foram iniciados
Foto: Ascom casa civil

O último relatório emitido pelo Painel Intergovernamental sobre as Mudanças Climáticas (IPCC) aponta uma grande preocupação global: a crise climática. O que no Brasil é relacionado em grande parte ao desmatamento esconde um problema ainda maior, os combustíveis fósseis.

António Guterres, secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), destacou que o relatório do IPCC aponta como o carvão e outros combustíveis fósseis estão ”engolindo a humanidade”.

Mas qual o problema dos combustíveis fósseis?

Como o próprio termo já explica, os combustíveis fósseis são originados a partir da decomposição lenta de animais e vegetais ao longo de milhares ou milhões de anos. Existindo em três tipos: petróleo, gás natural e carvão que pode ser mineral ou natural, todos são considerados fontes de energia não renováveis.

Os gases causadores do efeito estufa, em especial o dióxido de carbono (CO2), são os principais responsáveis pelas mudanças climáticas, aponta a ONU, e a queima de combustíveis fósseis, assim como o desmatamento, provocam a liberação desse gás.

Segundo o levantamento do think tank internacional Carbon Brief, o Brasil já emitiu 112,9 bilhões de toneladas de CO2 desde 1850. Mais de 85% desse volume estaria associado à derrubada de florestas.

No Ceará, primeiro veio o Hidrogênio Verde

O ano de 2021 foi marcado pelos grandes encontros internacionais e o termo que definiu a agenda ambiental do Ceará durante esse período foi o Hidrogênio Verde (H2V). Apresentado como uma das alternativas para diminuição das emissões poluentes derivadas de combustíveis fósseis, o H2V é feito a partir de energias renováveis, como a eólica e a solar, dois grandes potenciais do estado.

Em setembro do mesmo ano, o governador Camilo Santana (PT) anunciou a instalação da primeira usina de hidrogênio verde do Brasil, no Complexo Industrial e Portuário do Pecém (CIPP).

Durante live de apresentação do projeto, Camilo enfatizou a aposta no hidrogênio “temos apostado muito nessa energia limpa, e a EDP já gera mais de 350 empregos diretos no Ceará no Porto do Pecém com sua termelétrica, que produz quase a metade do consumo de energia de todo o Estado”, afirmou.

A novidade do projeto do Hub de Hidrogênio Verde foi enfatizada pelo governador, e pelo deputado federal José Airton Cirilo (PT) em novembro, durante a 26ª Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas (COP26), em Glasgow, na Escócia.

E então o Combustível Fóssil 

Pouco mais de um mês depois da participação do Ceará na COP26, o governo do estado anunciou em dezembro de 2021, a instalação de uma usina termelétrica à gás natural na Zona de Processamento de Exportação (ZPE) do Complexo do Pecém, em São Gonçalo do Amarante.

Com investimento de R$ 5 bilhões, o projeto é liderado pela empresa estadunidense Ceiba Energy, projetado pela Ponte Nova Energia e com suprimento de gás para a UTE da empresa Shell.

Mesmo a empresa Ceiba Energy apontando esforços para geração renovável e geração com baixo teor de carbono, a origem do gás natural não muda e a decisão conflita com as medidas apresentadas pelo próprio estado durante a conferência.

A escolha do Ceará

Enquanto boa parte dos países desenvolvidos buscam, de forma voluntária [ou não], energias limpas e renováveis como energia eólica e solar, o Ceará aparenta percorrer entre os dois modelos de desenvolvimento: um sustentável e outro altamente perigoso. Até o início das operações das duas termelétricas o estado deve ponderar os riscos e impactos dessas instalações.

Entre os acordos realizados ainda durante a COP26, está o principal, fazer com que a temperatura do planeta fique bem abaixo de 2ºC, acima dos níveis pré-industriais e atinja 1,5°C, o que evitaria uma catástrofe climática. E isso implica diretamente na diminuição ou até mesmo na extinção da queima de combustíveis fósseis.

Desde o penúltimo relatório do IPCC, a região Nordeste é considerada vulnerável ao impacto das mudanças climáticas. Economia, segurança alimentar e biodiversidade devem ser as áreas mais afetadas, o que implica diretamente na vida humana.

Em contraponto às medidas globais, o documento reúne ações que podem ser tomadas pelos governos para adaptação e o enfrentamento das mudanças climáticas. O que nos deixa uma infinidade de questionamentos.

Os países desenvolvidos irão, de fato, repensar as formas de geração de energia limpa? E os países subdesenvolvidos, como o Brasil, terão a intenção de pular a etapa do desenvolvimento econômico colonial baseado na destruição do planeta? O Ceará deve seguir entre os dois modelos ou deve tomar partido de um só? Acompanharemos os próximos capítulos.

 

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