
Ato do 8M no Cariri Foto: Bento Caetano/Revista Bárbaras.
Entre os dias 20 a 23 de junho, quatro mulheres foram vítimas de feminicídio no Cariri, duas em Juazeiro do Norte, uma em Barbalha e outra em Várzea Alegre. As vítimas tinham entre 23 e 38 anos. Os casos mantêm a região do Cariri como uma das mais violentas para o público feminino no Ceará. Para o movimento de mulheres da região, é preciso começar a enxergar a situação não apenas como mais um número, mas sim como um alerta para debater a vida das mulheres de forma mais complexa, permitindo que elas tenham oportunidade de viver.
Segundo Verônica Isidório, da Frente de Mulheres do Cariri, é preciso compreender que a violência contra elas está enraizada em fatores estruturais e que os feminicídios são uma expressão mais extrema de um sistema que desvaloriza a vida feminina.
“Ainda a maioria das pessoas que sofrem violência e que morrem em casos de feminicídio são negras. Inclusive, essas quatro vítimas que morreram aqui no Cariri eram negras. Então, são as mulheres racializadas que estão morrendo mais devido à violência de gênero e ao feminicídio. É preciso que o governo se preocupe em organizar uma estrutura de políticas públicas que retire essas mulheres da situação de vulnerabilidade social na qual foram colocadas”, afirma.

Foto: Thais Mesquita
A ativista ainda chama atenção para a relação direta entre feminicídio e desigualdades como pobreza, desemprego, racismo e preconceitos de gênero. Dados do Observatório da Mulher contra a Violência, em parceria com o Instituto DataSenado, apontam que 46% das vítimas de violência doméstica não denunciam seus agressores por dependência econômica.
“Então, é preciso, sim, rever as estratégias dos programas sociais, a distribuição de renda, essa questão do transporte, que tem sido um tema muito urgente”, reforça.
Apesar da existência de equipamentos como as delegacias da mulher, os centros de referência, o núcleo da defensoria pública especializado em defesa da mulher e a própria Casa da Mulher Cearense em algumas cidades da região, a estrutura de proteção e prevenção ainda é considerada lenta.
“Ainda não há a celeridade que gostaríamos em relação às medidas protetivas. O prazo atual para concessão da medida é de até 48 horas. Queremos que seja imediato. Quando a mulher solicita a medida, ela deveria sair da delegacia e do equipamento de proteção no mesmo momento. Isso faria muita diferença”, explica.
O enfrentamento no âmbito escolar
Outro caminho apontado, além de oferecer condições dignas de vida para que elas conquistem independência econômica, é a prevenção nas escolas, por meio de uma educação crítica e contínua.
“Esse debate precisa ser constante no ambiente escolar, porque aí sim conseguiremos dialogar com crianças e adolescentes, desnaturalizar a violência contra a mulher, ensinar meninos e meninas a identificar os assédios, o que é um afeto, um toque de carinho e o que configura assédio”, acrescenta Verônica.
Embora hoje, especialmente em março, mês da mulher trabalhadora, muitas escolas desenvolvam atividades educativas sobre a luta feminina, a violência sofrida e os direitos conquistados, grupos e coletivos feministas ressaltam que o tema precisa estar presente de forma contínua e estruturada no cotidiano escolar.
“Mas, para além da lei de ensino, é preciso que isso seja colocado em prática no dia a dia da sala de aula. Portanto, é necessário repensar a estrutura pedagógica, os instrumentos didáticos e as condições de ensino das crianças e adolescentes no Ceará, direcionando-se a uma educação que realmente desconstrua toda a estrutura machista, racista e lgbtfóbica que formou a sociedade brasileira”, aponta.

Foto: Reprodução
As histórias por trás dos números
No dia 20 de junho, em Barbalha, Maria Danieli Pereira Basilino, de 38 anos, teve sua vida tirada por Leonardo Barbosa Terra, de 38 anos. O suspeito foi preso em flagrante pela Polícia Militar.
No dia 21 de junho, Rafaela Lima de Almeida, de 29 anos, morreu no Hospital Regional do Cariri, em Juazeiro do Norte, após um período em coma devido a violência com faca sofrida pelo ex-companheiro.
Em 22 de junho, uma mulher de 26 anos, que não teve a identidade divulgada, também perdeu sua vida com os ferimentos de vaca em Várzea Alegre. O crime foi cometido por um homem com quem ela estava se relacionando.
No dia 23, em Juazeiro do Norte, Cicera Maria Costa foi morta a tiros por José Aldir dos Santos. Ele foi preso durante a madrugada de terça-feira (24), na própria cidade.
Onde denunciar?
- 180 – Central de Atendimento à Mulher
- 181 – Disque-Denúncia da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS)
- (85) 3101-0181 – WhatsApp, pelo qual podem ser feitas denúncias via mensagem, áudio, vídeo e fotografia.
- Delegacia da Mulher de Juazeiro do Norte ou Crato
- 190 – Coordenadoria Integrada de Operações de Segurança
- 100 – Disque Direitos Humanos
Ainda, de acordo com a SSPDS, há possibilidade de solicitar medidas protetivas de urgência de forma virtual. As solicitações podem ser feitas por meio do site mulher.policiacivil.ce.gov.br.

Equipamento dispõe de serviços especializados e integrados para atender diversas situações e auxiliar as mulheres na quebra do ciclo da violência. Foto: Divulgação