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Alerta tendência: quais são os palpites do mundo da moda para a Expocrato no Cariri?
Conforto ou beleza? Eis a questão que pauta as escolhas do guarda-roupa.
Aysha Quezado

A moda nunca é apenas sobre o que se veste — mas sobre quem veste, onde veste, por que veste. E talvez não exista ocasião melhor para observar essa dinâmica em ação do que durante os grandes eventos culturais do Cariri, como a Festa do Pau da Bandeira, o Juaforró e, claro, a aguardada Expocrato. A cada edição, o que vemos é uma verdadeira passarela a céu aberto, onde a movimentação do público revela mais do que tendências: mostra como identidade, memória e desejo se cruzam na construção do vestir.

Em 2025, o que se destaca é a pluralidade. Se antes havia uma separação nítida entre o que era “moda da cidade” e o “estilo do sertão”, hoje esses limites estão cada vez mais borrados, e é aí que mora a riqueza. O streetwear dialoga com o forró raiz, o boho abraça o country, o artesanal invade o urbano. A moda no Cariri não copia: ela reinventa. E o resultado são looks autorais, criativos, e muitas vezes mais relevantes do que os que vemos nas grandes passarelas.

Neste momento da temporada fashion, as lojas varejistas do Cariri já começam a lançar suas Coleções Expocrato. Enquanto influenciadores digitais promovem marcas e produtos que, muitas vezes, não refletem a realidade ou o estilo do público que frequenta o evento, os consumidores saem em busca de visuais que combinem com o clima da festa — sem abrir mão do custo-benefício. Conforto ou beleza? Eis a questão que pauta as escolhas do guarda-roupa.

 

Edição da Expocrato 2025 acontece do dia 11 a 20 de junho. Foto: Divulgação.

 

Country repaginado: o sertanejo que fala com o pop

Não é coincidência que o estilo western esteja em alta. A cultura pop tem jogado luz sobre o country com narrativas que atualizam seus códigos visuais, como fez Beyoncé em Cowboy Carter, misturando herança negra, orgulho texano e uma estética maximalista. E ela não está sozinha: artistas como Lil Nas X, Dua Lipa e Post Malone também embarcaram nessa vibe western, misturando tradição e modernidade nos palcos e videoclipes.

A tendência ultrapassou o universo musical e chegou às telas. Séries como Yellowstone (2018–2024) e Godless (2017), ambientadas no Oeste americano do século XIX, ajudaram a reacender o fascínio por esse visual rústico. Já nas passarelas, o xadrez — presença obrigatória no guarda-roupa sertanejo — apareceu com força na coleção Cruise 2025, da marca francesa Dior, mostrando que até o luxo de grife se rende ao charme do country.

 

Cruise 2025 Show - DÉFILÉS PRÊT-À-PORTER - Woman | DIOR GB | DIOR

Coleção Cruise 2025, da marca Dior. Foto: Divulgação.

 

O sertanejo remixado 

No Cariri, a moda western ganha uma releitura moderna e funcional, adaptada ao calor, ao ritmo dos eventos e ao estilo de quem frequenta festas como a Expocrato. Coturnos e botas de cano alto são os queridinhos da vez, assim como saias de couro, jaquetas de camurça, calças jeans de cintura alta e cintos com fivelas marcantes. A combinação certa entre esses elementos garante um visual estiloso, sem abrir mão do conforto necessário para dançar e curtir.

O varejo local oferece conjuntos completos inspirados no western por preços que cabem no bolso — a partir de R$ 250. Já plataformas online, como a Shein, disponibilizam calças de couro ecológico por cerca de R$ 150. A dica é investir em peças-chave que podem ser reaproveitadas em outras ocasiões, como uma boa bota ou um cinto com design diferenciado.

Para completar as composições, vale apostar em acessórios com pegada boho ou rústica: brincos de argola, colares com pedras naturais, lenços no pescoço e até bolsas com franjas. O importante é montar um visual que una identidade, conforto e ousadia — com o carimbo do Cariri.

 

Inspirações de visuais que fazem referência ao country repaginado. Foto: Reprodução/Pinterest.

 

Boho chic: o charme vintage que conquista o sertão

Cores terrosas, estampas orgânicas, tecidos leves e um toque de suavidade definem o estilo boho, uma moda que une liberdade e sofisticação. Com elementos em comum com a estética country, como botas, acessórios marcantes e jeans, o boho pode facilmente se misturar a ela. Mas suas origens são distintas: ele nasce da influência dos artistas folk, indie e hippies dos anos 1970, incorporando referências românticas, vintage e boêmias.

Um dos maiores ícones recentes dessa estética é a personagem Daisy Jones, da série Daisy Jones & The Six, da Amazon Prime Video. Ambientada na Los Angeles dos anos 70, a série retrata o visual boho de forma fiel e encantadora: vestidos fluidos, calças flare, batas leves e tops camponeses compõem um estilo despojado, mas cheio de atitude e glamour nostálgico.

Nas passarelas, a marca francesa Chloé é uma das principais representantes do boho chic contemporâneo. Seus desfiles de 2025 reafirmam a tendência com peças como vestidos esvoaçantes, batas com babados, sandálias gladiadoras e franjas delicadas — tudo isso em tons naturais que remetem ao deserto, à terra e à natureza.

 

 

A rejeição do boho pelos consumidores

Apesar das críticas (muitas vezes válidas) que apontam o boho como uma estética elitista ou “fabricada para o Instagram”, é possível adaptá-lo de forma acessível e original. No Cariri, vemos o boho renascer com o toque da renda renascença, do crochê feito à mão, das saias jeans com babados. É o luxo da simplicidade, traduzido para o cotidiano das festas populares.

Se os cintos largos e chamativos não combinam com você, aposte em versões mais discretas, como correntes douradas ou prateadas, que cumprem a função com elegância. As saias longas e esvoaçantes, marca registrada do boho, podem dar lugar a versões curtas, jeans ou com detalhes como babados e rendas, ideais para o calor do Cariri.

O toque final vem com os acessórios: colares longos, pulseiras em camadas, brincos com pedras naturais, lenços estampados e bolsas com franjas completam a produção com autenticidade. O segredo está em misturar referências com leveza e criar uma composição que reflita liberdade, criatividade e conexão com a natureza — elementos que estão no DNA do boho.

 

Inspirações para a estética Boho. Foto: Reprodução/Pinterest.

 

All Jeans: o clássico reinventado pela criatividade

Se tem uma peça que nunca perde o fôlego nas tendências, é o jeans. Atemporal, versátil e com múltiplas possibilidades, o denim segue como aposta certeira para quem quer curtir os grandes eventos do Cariri com muito estilo. Em 2025, ele reaparece com força total, mas repaginado. Sai o básico e entra o jeans statement, com forte influência do street style.

Personalizar é empoderar: calças largas, jaquetas oversized e conjuntos combinando são os favoritos nas vitrines do Cariri — e também nos perfis mais criativos da região. O jeans, antes símbolo de padronização, hoje é espaço de invenção. E isso diz muito sobre o momento cultural que vivemos: o da afirmação do estilo pessoal como uma forma de resistência.

Um marco icônico dessa tendência é o American Music Awards de 2001, quando Britney Spears e Justin Timberlake apareceram com looks all jeans combinados no tapete vermelho. Britney apostou em um vestido patchwork cheio de pedrarias e acessórios prateados, enquanto Justin usou um “smoking canadense” com direito a chapéu de cowboy. O momento virou referência pop e até hoje inspira releituras fashionistas que integram o estilo Y2K — Year 2000 ou anos 2000.

 

A cantora pop Britney Spears e o seu ex-namorado Justin Timberlake no red carpet do American Music Awards do ano de 2001. Foto: Reprodução.

 

Customização em alta: como montar um look all jeans?

Jeans nunca sai de moda, mas 2025 nos convida a ressignificá-lo. Criar um look all denim estiloso e confortável é mais fácil do que parece: a dica principal é misturar texturas, lavagens e cortes para dar profundidade e personalidade ao visual.

Na parte de cima, aposte em tops, camisas ou coletes jeans — e se quiser elevar o visual, personalize: recortes assimétricos, lantejoulas, flores aplicadas ou até pinturas manuais fazem toda a diferença. Jaquetas jeans também são curingas poderosas, especialmente em versões oversized ou cropped.

Para a parte de baixo, calças de modelagem ampla como baggy, cargo, pantalona ou wide leg são ótimas opções. Elas garantem conforto e criam uma silhueta moderna e com atitude. Se quiser um visual mais ousado, vá de conjunto jeans ou aposte em um vestido ou macacão inteiro na mesma lavagem.

No Cariri, lojas de departamento e boutiques locais oferecem boas opções de peças jeans com preços acessíveis — variando entre R$ 150 e R$ 250. Para quem quer exclusividade, vale garimpar em brechós locais ou apostar no DIY (faça você mesmo) e criar algo único.

 

Inspiração de outfits all jeans. Foto: Reprodução/Pinterest.

 

Moda artesanal: costurando histórias e pertencimento

Você sabia que o crochê da sua avó pode estar no auge da moda mundial? O artesanato ganhou status de alta-costura na última edição da São Paulo Fashion Week. Os desfiles de marcas como Catarina Mina e Heloísa Faria mostraram que a moda artesanal não só está em alta, como também representa um movimento estético e político. 

Bordados, crochês, rendas, tramas em macramê e até detalhes em cerâmica têm sido vistos em roupas e acessórios — revalorizando técnicas tradicionais que, por muito tempo, foram associadas ao universo doméstico ou informal.

A moda artesanal não é apenas uma tendência visual, mas uma atitude que se opõe à lógica da produção em massa e ao fast fashion. É um retorno à essência da criação: tempo, cuidado, história e identidade. No Brasil, nomes como Gaby Amarantos, Maria Gadú e Letícia Sabatella são defensoras públicas do slow fashion e frequentemente vestem roupas que destacam rendas, crochês e bordados nordestinos. Ao vestir uma peça artesanal, não se veste apenas roupa, mas também cultura, memória e território.

A valorização do artesanal também tem ganhado espaço em filmes e séries. Em Little Women (2019), romance premiado com o Oscar de Melhor Figurino, a diretora Greta Gerwig faz uso de figurinos inspirados na costura do século XIX, com vestidos de algodão e malhas tricotadas que evocam o valor do feito à mão em tempos de escassez e reinvenção feminina. Em um mundo cada vez mais digital, o trabalho manual aparece como gesto de resistência e liberdade.

 

 

A autenticidade da peça artesanal para as festividades

Talvez nenhuma tendência ressoe tanto com o espírito do Cariri quanto a moda artesanal. Essa tendência pode – e deve – ser incorporada ao dia a dia com criatividade e autenticidade. Ela conversa muito bem com o vestuário típico das regiões brasileiras, especialmente em climas mais quentes, onde tecidos leves e fibras naturais predominam. 

Para quem busca um visual mais marcante, ideal para eventos noturnos ou festas, a dica é mesclar elementos artesanais com toques de brilho e tecidos sofisticados. Franjas em blusas ou saias trazem movimento, enquanto linhas acetinadas e detalhes em lurex ou paetês dão um ar de glamour sem perder a essência artesanal. Um vestido de crochê com pontos fechados pode se transformar completamente ao ser combinado com acessórios dourados, salto alto e uma clutch bordada à mão.

Outra sugestão é explorar a mistura de texturas: renda com linho, crochê com seda, ou até cerâmica em detalhes de colares e cintos. Essa combinação entre o rústico e o refinado cria looks únicos, que refletem personalidade e originalidade.

 

Inspirações da moda no artesanato. Foto: Reprodução/Pinterest.

 

A moda do Cariri é resistência, criatividade e orgulho local

A moda que se firma na Expocrato 2025 não é apenas sobre tendência — é sobre território, sobre presença, sobre existir com beleza em um país desigual. Enquanto influenciadores digitais promovem roupas caríssimas que pouco dialogam com o contexto social do público local, a moda das ruas do Cariri encontra formas de afirmar: nós também criamos, misturamos, inovamos.

E, no fim das contas, essa talvez seja a principal mensagem da temporada: a verdadeira tendência não está nas vitrines, mas nas ruas e nos espaços ocupados por pessoas reais. Na forma como cada pessoa monta seu look entre o ônibus e a festa. No brilho das lantejoulas baratas combinadas com um jeans batido. No crochê da avó, na camisa herdada, na bota reformada.

A moda do Cariri não pede licença — ela chega costurando mundos e realidades, e sambando sobre rótulos. E é exatamente por isso que ela merece ser olhada com a mesma atenção que damos às grandes capitais da moda. Porque ela é, sim, grande. Porque ela é, antes de tudo, nossa.

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