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Babinski: o artista plástico polonês que encontrou em Várzea Alegre inspiração para viver e fazer arte
Emanuel Máximo
Maciej Babinski em seu ateliê, 2021 Foto: Emanuel Máximo

Maciej Antoni Babinski é um artista plástico polonês, professor aposentado da Universidade Nacional de Brasília (UNB) e amante das artes, da cultura e das paisagens do sertão. Em 1991, movido pelo amor que sentia por Lídia, uma cearense que conheceu em Brasília, resolveu se mudar para o Ceará. Hoje, aos 90 anos, ele vive com a esposa no sítio Exu, distrito de Canindezinho, município de Várzea Alegre e observa das janelas de seu ateliê as vistas naturais sertanejas, que servem de inspiração para suas telas e gravuras.

Lídia foi a principal ponte que ligou Babinski ao sertão do Ceará. Depois de conhecer a família dela, ele também se apaixonou pelo povo, pelas paisagens e pela cultura de Várzea Alegre e resolveu morar ali. “A partir do momento que eu cheguei aqui a primeira vez, me impressionou a solidez do ambiente social familiar e a solidez da cultura rural.”, diz ele.

Sua casa está localizada bem no meio da vegetação sertaneja e conta com uma galeria de exposição e um ateliê de artes, onde passa a maior parte do seu dia. De lá ele consegue observar a natureza através das janelas e se reconectar com as memórias rurais que traz de Varsóvia, na Polônia, sua terra natal.

Babinski diz que a paz que lhe foi tirada na infância por causa da segunda guerra mundial, hoje é devolvida pela calmaria do sertão. É vivendo nesse ambiente bucólico que ele demonstra ter retomado a alma da criança artista que desenha e rabisca, que cria e imagina, que se inspira com o que tem em sua volta, transformando o meio em arte. “Encontrei aqui a paz absoluta para poder desenvolver tudo que tinha sido reprimido das minhas vidas anteriores. Porque são vidas anteriores, não é uma vida só”, reflete sobre essa relação com o campo.

Técnica OST, tamanho 70 x 70 cm, ano 2020, título Pandaimon Foto: Acervo Pessoal

As obras de Babinski são marcadas pelos deslocamentos que ele teve que fazer durante a a vida. Geralmente são compostas por pessoas e paisagens que ele observa através das janelas e varandas onde passa. Babinski mostra que um dos principais objetivos das suas obras inspiradas no sertão é contar a história das árvores e vegetações. “A história das árvores é contada pelos quadros, porque as árvores morrem e são cortadas, mas as pinturas continuam.”

Os 30 anos vividos em Várzea Alegre foi o período de maior produção do pintor. Ele diz ter descoberto na pequena cidade interiorana uma liberdade maior para criar – algo que em outros lugares que viveu não encontrou. “Eu nunca trabalhei tanto quanto trabalhei aqui. Eu fiz umas 70 gravuras aqui, minha obra inteira não passa de 120, mais da metade. Aqui foi como um recomeço de vida para mim.”

O isolamento social durante a pandemia não foi barreira para as criações de Babinski. Até mesmo nos momentos difíceis, o artista encontra inspiração para fazer telas, mas admite que mesmo aos 90 anos, encarou a covid-19 como um verdadeiro aprendizado de vida. “É um momento de olhar tudo, olhar melhor o que eu tenho, aproveitar o que eu tenho dentro das minhas restrições e da dificuldade de locomoção crescente.”

Para o futuro, Babinski planeja continuar fazendo os seus trabalhos e gozando da paz e tranquilidade que a zona rural de Várzea Alegre lhe proporciona. Quanto a sua inspiração, continuará sendo as paisagens da janela. “Eu me preparei para ser velho aqui, me preparei para continuar trabalhando mesmo sem poder sair no sol pintando do lado de fora. Eu pinto pela janela.”

 

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