O longa ‘Todas as Vidas de Telma’, dirigido por Adriana Botelho, de Juazeiro do Norte, recebeu o Troféu Homenagem na primeira edição do Festival Ceará Voador, encerrado no último sábado (10), em Fortaleza. Ao todo, três produções do Cariri foram selecionadas para o evento, sendo duas para a mostra competitiva de curtas-metragens e uma exibida como longa-metragem, fora de competição.

No enredo de Todas as Vidas de Telma, Ana vive em Lisboa e enfrenta uma crise pessoal e profissional. Ao receber a notícia da morte da tia-avó, Telma Saraiva, retorna ao município do Crato para resolver questões de inventário. Lá, se depara com o acervo fotográfico de Telma e suas técnicas de foto-pintura. A partir dali, Ana decide transformar sua vida.

Para Adriana Botelho, o modo como foi organizado o festival, com exibição e discussão tornou as sessões calorosas. “Então, para uma realizadora como eu, é o melhor prêmio que a gente pode ter. É esse diálogo, esse retorno que o público tem do filme que é produzido. Como chegam as histórias no público. Porque ninguém faz um filme só para a gente ver ou só para os amigos verem. Então, eu fiquei muito feliz enquanto realizadora, porque eu consegui saber opinião e ouvir depoimentos de um público muito diverso”, disse ao Portal Miséria.

‘Todas as vidas de Telma’, de Adriana Botelho. Foto: Divulgação.

Outro destaque caririense foi o curta-metragem Faísca, de Bárbara Kariri, que aborda como as violências contra o território, especialmente as queimadas, levaram ao desaparecimento das onças. A ausência desses animais desencadeia uma série de adoecimentos no corpo das mulheres, que passam a perder a vontade de viver e a coragem para seguir. “E esse filme é sobre esse resgate de práticas desde o plantio, desde o corte de cabelo, ao banho de rio, a várias práticas ancestrais indígenas que fazem com que recuperem as onças, as onças retornem ao território e as pessoas daquele território também recuperem, de alguma forma, uma fagulha de coragem“, explicou a cineasta. A obra recebeu menção honrosa de Melhor Direção e o Prêmio Atelier Rural.

Com a visibilidade, a artista pretende conquistar outras aberturas. “E foi uma honra imensa poder mostrar essa obra. Eu venho do teatro, então o tipo de cinema que eu faço tem uma pegada performática, eu tenho um interesse muito grande na oralidade, eu trabalho muito com a narrativa, uma narrativa que se conta e como é ficcionalizar, uma narrativa que é contada de geração a geração. Isso é um interesse meu, enquanto cineasta, nas obras que eu venho construindo“, disse Barbara.

Faísca, de Bárbara Matias Kariri. Foto: Divulgação.

“O cinema cearense está voando longe, se destacando nos festivais nacionais e internacionais, ganhando prêmios. A gente acredita muito no cinema e na educação cearense, exemplos pro Brasil todo. A arte produzida no Ceará é uma pauta cada vez mais importante, sem nenhuma restrição ao que é feito fora, mas com a missão de mostrar o que temos aqui“, ressalta Sara Síntique, diretora do festival.

Quem levou o premio de melhor curta foi  ‘O Medo Tá Foda’, animação dirigida por Esaú Pereira. Na categoria, além de ‘Faísca’, outra produção caririense que concorria era ‘Linhas de Soco’, dirigido por Rafael, de Juazeiro do Norte.

Outros filmes destacados pelo Festival Ceará Voador

• “Noites em claro”, de Elvis Alves (in memorial). Troféu Homenagem. 
• “Ponte metálica”, de Felipe Bruno e Wes Maria. Menção honrosa pela preparação de elenco. 
• “As velas do Monte Castelo”, de Lanna Carvalho. Menção honrosa “Já é um clássico cearense”.
• “Faísca”, de Barbara Kariri. Menção honrosa de melhor direção e Prêmio Atelier Rural.