Audiência pública foi realizada na Universidade Regional do Cariri (Urca), no Crato | Foto: Guto Vital/ Miséria/M1
Nesta sexta-feira (5), moradores de comunidades afetadas pelas obras do Cinturão das Águas do Ceará (CAC) no Cariri voltaram a relatar problemas causados pela intervenção, durante audiência pública realizada na Universidade Regional do Cariri (Urca), no Crato. O encontro, promovido pela Comissão de Direitos Humanos e Cidadania (CDHC) da Assembleia Legislativa do Ceará (Alece).
Segundo relatos, poeira constante, poluição sonora, circulação irregular de veículos e ausência de informações claras sobre a recuperação ambiental fazem parte da rotina das famílias que vivem no entorno da obra. Além dos danos materiais e ambientais, moradores apontam insegurança, dificuldades de locomoção e perda de fontes tradicionais de sustento.
A indígena Wanda Cariri, da aldeia Poço Dantas, na região de Ponta da Serra, afirmou que o impacto atinge diretamente o modo de vida da comunidade: “A devastação é muito grande. Essa biodiversidade que foi devastada também era sustentabilidade para o nosso povo, como, por exemplo, as castanhas do caju no período seca, que era uma renda”, afirmou.
Ela também destacou que, apesar de a obra tratar de recursos hídricos, a comunidade enfrentou falta de água até poucos anos atrás, dependendo de cacimbas, hoje parcialmente destruídas. “Com a passagem do cinturão, essas cacimbas, uma parte foi soterrada, outra parte ficou bastante com o talude de onde vai passar o rio, (…) a gente sem acessibilidade ao outro lado”, acrescenta.
Já Helenice Telles, moradora do Baixio das Palmeiras, relatou mudanças bruscas na paisagem e na qualidade de vida. “Nós estamos sofrendo diariamente com as mudanças. O que era verde hoje é um pó, o que era verde hoje são pedras, e dentro das nossas casas a gente convive diariamente com poeiras. Não conseguimos ter mais tranquilidade dentro de casa por conta das inseguranças que a obra vem nos causando”, relatou.
Desde o início das intervenções, esta é a terceira audiência pública realizada pela CDHC para ouvir os moradores. Demandas como presença de equipe médica, proibição de explosões e cautela no uso de máquinas pesadas já haviam sido pactuadas. A Comissão deve encaminhar um novo conjunto de recomendações aos órgãos responsáveis pela execução do CAC, com foco na redução dos danos socioambientais.
Assista a entrevista completa:
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