Cerco de Jericó foi encerrado no dia 5 de agosto, em Juazeiro do Norte. Foto: Reprodução.
Após a repercussão negativa de trecho da oração proferida durante a celebração religiosa conhecida como “Cerco de Jericó”, realizada em Juazeiro do Norte, a Comunidade Católica Filhos Amados do Céu, organizadora do evento, retratou-se publicamente afirmando que a oração ministrada no dia foi uma versão antiga e recortada de outras fontes. Ainda, segundo a nota divulgada na última quinta-feira (7), a afetação do trecho que menciona a homossexualidade junto a doenças e vícios, passou despercebida até o momento da denúncia.
A parte da oração, conhecida como quebra de muralhas, registrada em vídeo, dizia: “Jesus, quebre todas as muralhas de doenças, sejam elas quais forem. Principalmente o câncer, depressão, dependência do álcool, drogas, prostituição, homossexualismo, lesbianismo.”
No momento, foi utilizado o termo “homossexualismo”, uma palavra que carrega o sufixo “-ismo”, geralmente usado para nomear doenças. Desde 17 de maio de 1990, devido a reivindicações da comunidade LGBTQIA+, a atração sexual, romântica e/ou emocional por pessoas do mesmo gênero, não é reconhecida como transtorno ou doença pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Ainda na retratação, a comunidade afirmou que entende e concorda que o debate sobre orientação sexual já foi superado e não se trata de uma patologia. “Desta maneira resta inequívoco que não tivemos – a qualquer tempo ou propósito – o intuito de ofender, diminuir, excluir, discriminar, patologizar, curar ou promover qualquer dano às pessoas com identidade de gênero vinculadas à comunidade LGBTQIAPN+”, diz trecho do comunicado.
O grupo comprometeu-se a providenciar que o trecho não seja mais propagado. “Reitera que não houve e nem haverá, por parte desta Comunidade Católica, o intuito de promover discriminação ou ódio em desfavor de qualquer grupo, segmento, comunidade ou instituição, haja vista não corresponder os com nossos valores espirituais”, afirmaram.
Noticia de fato no Ministério Público
A Associação de Defesa, Apoio, Cidadania, Humanização e proteção dos Direitos Humanos à população LGBTQIAPN+ — Adacho Cariri, emitiu uma nota de repúdio ao ocorrido, classificando a fala como “infeliz e discriminatória”.
Segundo a Adacho, “tal declaração, além de ferir frontalmente os princípios da dignidade da pessoa humana, promove desinformação, incita o preconceito e agride a comunidade LGBTQIAPN+ local e nacional”.
O acontecido também foi registrado ao Ministério Público de Juazeiro do Norte como uma notícia de fato pela Associação Caririense pela Diversidade e Inclusão (Acedi). O professor Gilney Matos, integrante da Acedi, compartilhou o momento nas redes sociais.
“Recebemos vários prints, várias denúncias de um discurso de ódio travestido de discurso religioso. Infelizmente nós sabemos que a nossa população ainda está sob o anseio da violência, sob as mortes das nossas regiões. Então, a gente vê um discurso proferido por lideranças religiosas, independente de qual área, não se pode tolerar”, disse.

