Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Um estudo publicado na revista Nature Reviews Disease Primers, no último dia 14, mostra que a multimorbidade – a presença de doenças concomitantes no mesmo indivíduo, é um problema de saúde pública mundial, mas tem relação direta com questões socioeconômicas. Pessoas menos privilegiadas socioeconomicamente apresentam, em média, multimorbidade dez anos antes, se comparadas com a população mais privilegiada. A pesquisa teve participação de pesquisadores da Universidade Federal de Pelotas (UFPel).
“A multimorbidade está diretamente associada com determinantes de piora de qualidade de vida, como marcadores do envelhecimento, inflamação crônica, hábitos de vida (atividade física, dieta, tabagismo) e efeitos de remédios (como interações medicamentosas)”, afirma Bruno Pereira Nunes, professor da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e coautor do estudo.
Além da relação com a vulnerabilidade socioeconômica, o artigo também apresentou a urgência de mais produções científicas a respeito do assunto, o que influencia diretamente na reflexão sobre o tema e na elaboração de consensos de manejo para profissionais de saúde.
De acordo com Nunes, os mecanismos que impactam a multimorbidade são amplos, complexos e demandam uma atenção especial dos tomadores de decisão, uma vez que a estrutura social, de distribuição de renda e de bens tem papel importante na forma como a saúde dos indivíduos e da sociedade é afetada.
Multimorbidade e a Covid-19
De acordo com a pesquisa, a pandemia de covid-19 repercutiu nas questões relacionadas à multimorbidade. Antes da crise sanitária esses pacientes já enfrentavam desafios, após o curso da pandemia, a situação parece ter se agravado, principalmente para pessoas que precisam consultar diferentes serviços e profissionais de saúde para lidar com suas doenças, afirma o coautor.
“Os problemas de saúde podem ter se agravado e novas doenças podem ter surgido, como depressão e ansiedade, em razão da pandemia e sua condução pelos países”, analisa Nunes.
O estudo aponta que o risco de agravamento da infecção pelo vírus SARS-CoV-2 é maior em pessoas com multimorbidade, tornando a carga para enfrentar a pandemia maior entre essas pessoas. Em países que tiveram um enfrentamento ruim da doença, como o Brasil, prolongaram a pandemia e suas consequências de forma desnecessária, causando mais desgaste para esses pacientes.
“Vale lembrar que o cuidado às pessoas com multimorbidade passa por uma atenção integral, humanizada, equitativa e longitudinal, com foco na atenção primária à saúde na coordenação da rede de cuidados”. No Brasil, o Sistema Único de Saúde (SUS) e a Estratégia Saúde da Família são, na avaliação do pesquisador, capazes de fornecer a atenção para toda a população, “desde que tenham as condições adequadas para isso, incluindo financiamento e gestão de qualidade”, finaliza.

