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Ampliação de denúncias é o poder de conscientização das mulheres, reflete ativista sobre a luta de mulheres no Cariri
Durante todo o mês de março, o Site Miséria vem trazendo matérias dominicais acerca da luta e vivência de mulheres na região do Cariri.
Alan Clyverton
movimento feminnista
Foto: 8M Cariri / Reprodução

Esta semana, a nossa reportagem conversou com Veronica Neuma, militante feminista e membro do Grupo de Valorização Negra do Cariri (GRUNEC). Ela refletiu sobre conquistas, reivindicações e desafios na atuação do movimento feminista no Cariri.

O movimento feminista é historicamente pautado pela defesa da vida e a conquista de direitos igualitários das mulheres em todos os âmbitos da sociedade. O combate ao racismo, à transfobia e à xenofobia (discriminação contra pessoas de outros países, regiões ou povos), também faz parte dessas reivindicações. Portanto, a luta feminista atua na defesa de diversos grupos minoritários, e que estão expostos à discriminação e a violência, com enfoque nas mulheres, sejam elas cis ou transexuais.

“Na minha percepção, são muitos os avanços que às vezes parecem contraditórios, ressalto o aumento no número das denúncias, nos mais diversos órgãos da rede de proteção. Penso que essa ampliação de denúncias sinaliza o poder de conscientização das mulheres; a existência da Rede de Proteção a Mulher, composta pela Delegacia da Mulher, NUDEM, CRAS, CREAS, Conselhos…”, diz Verônica.

De acordo com um levantamento do Instituto Igarapé, do último mês de dezembro, foram 533 denúncias de violência doméstica via ligação para órgãos competentes de março a junho de 2019, e 1.026 em igual período de 2020, primeiro quadrimestre da pandemia devido à Covid-19 e isolamento social no estado do Ceará.

“Nos dias atuais temos muitas entidades, movimentos e órgãos públicos se colocando à disposição das mulheres, afirmando que elas não estão sozinhas. Também é um debate que acontece em todos os segmentos. Basta dizer: não há como refletir qualquer assunto sem colocar as mulheres na discussão. Por exemplo, quando falamos em genocídio da população jovem negra e periférica, não podemos deixar de falar que estes jovens têm mãe, mulheres, irmãs… Logo, ao falar de juventude é estratégico também falar da situação da mulher, especialmente a mulher jovem”, complementa.

Em 2018, segundo dados do Atlas da violência, uma mulher foi assassinada no Brasil a cada duas horas, totalizando 4.519 vítimas. Dessas, 68% são mulheres negras. A taxa de homicídios das mulheres negras é 5,2 para cada 100 mil, muito maior do que o dado sobre mulheres não negras: 2,8 para cada 100 mil.

ELAS NO PODER PÚBLICO

Veronica diz que “o diálogo com o poder público nunca foi fácil para os movimentos sociais, no entanto, graças a luta do movimento de mulheres na região do Cariri, o Crato hoje conta com mais um equipamento, o NUDEM, Núcleo de Defesa da Mulher, órgão da Defensoria Pública do Estado do Ceará. Ainda conseguimos eleger a Ouvidora Geral da Defensoria Pública, Antonia Mendes, que é uma mulher negra e militante do GRUNEC, está lá nos representando num espaço muito importante para a defesa das mulheres e dos homens. Muitas mulheres de movimentos nos espaços de controle social das políticas públicas é também um avanço, e fruto de muito trabalho”.

O FATOR PANDEMIA

“Neste tempo de grave crise sanitária, política, econômica e ética não podemos deixar de citar o quanto a pandemia impactou na vida das mulheres. Basta citar o aumento da violência doméstica, uma vez que passaram a conviver diuturnamente com os agressores em casa […] O isolamento quase não existe para a classe trabalhadora, especialmente as mulheres domésticas, que tiveram que se expor nos transportes, muitas vezes superlotados. Infelizmente ainda temos famílias sem acesso a água para consumo humano, imagine aí, álcool e máscara… Nem todas as mulheres tiveram acesso ao auxílio emergencial. A fome chegou e a carga é muito pesada para as mulheres que cuidam das casas e dos filhos e o feminicídio continua ceifando a vida das nossas mulheres. Ainda bem que não existe mais a ‘defesa da honra’ (figura jurídica utilizada pela defesa de um réu para justificar determinados crimes de natureza passional, com base no comportamento da vítima)”, finaliza a ativista.

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