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Variante brasileira do Zika vírus pode afetar sobrevivência de células do cérebro
Pesquisa mostra que a variante brasileira do Zika vírus teria a capacidade de afetar o sistema nervoso de forma diferente da cepa africana
Yanne Vieira
Levantamento aponta que 3.112 crianças nasceram com microcefalia de janeiro de 2015 a dezembro de 2018 (Agência Brasil)

Um estudo publicado na revista americana Molecular Neurobiology, sugere que as infecções pela linhagem brasileira do Zika vírus podem afetar a comunicação, o crescimento e até mesmo a sobrevivência de células cerebrais. Alterações moleculares causadas pelo vírus sugerem uma relação com distúrbios neurológicos, falhas no neurodesenvolvimento e malformações do sistema nervoso.

O trabalho é fruto de uma parceria entre o Laboratório de Neuroproteômica da Universidade Estadual de Campinas (LNP-UNICAMP) com o Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (ICB-UFRJ) e o Instituto D’Or de Pesquisa e Educação (IDOR).

Juliana Minardi Nascimento, uma das autoras responsáveis pelo artigo, destaca que o estudo envolveu dois tipos de ensaio. Cada modelo foi dividido em grupos e infectado com uma de três linhagens virais: o vírus causador da Dengue e duas variedades do Zika – a cepa africana e a brasileira.

Após um período de exposição aos vírus, as células infectadas passaram por um processo para separar as proteínas presentes em cada amostra e verificar se a presença desses organismos foi capaz de desencadear mudanças na atividade e na composição celular.

Segundo Daniel Martins-de-Souza, coordenador do LNP e do estudo, a infecção por Zika vírus foi capaz de alterar a produção de proteínas importantes para a formação, a sobrevivência e a comunicação das células infectadas desde o começo de seu desenvolvimento, o que mostra potencial para prejudicar seriamente a formação do sistema nervoso.

“A reparação de danos ao DNA, a reserva de energia e o posicionamento das células no cérebro também são prejudicadas. Em conjunto, essas mudanças mostram que o Zika vírus pode impedir que as células neurais imaturas proliferem e pode até levá-las a morte”, continua a pesquisadora Juliana.

O texto destaca que essas modificações podem ser decisivas, principalmente para o desenvolvimento fetal. Ao infectar uma pessoa grávida, o Zika tem a capacidade de atravessar as proteções do útero e atingir o feto em crescimento – e essa característica está ligada principalmente à linhagem brasileira do vírus.

“Se, ao ser infectado, o cérebro fetal não consegue se desenvolver e as células neurais não proliferam e diferenciam corretamente, isso pode levar a malformações no sistema nervoso da criança”, explica Juliana Nascimento. A autora ressalta ainda, que outras doenças neurológicas, como a síndrome de Guillain-Barré, também podem ser desencadeadas como consequência dessas infecções, uma vez que são relacionadas a variações semelhantes nas células neurais.

Segundo Daniel Martins-de-Souza, esses resultados preliminares têm potencial para favorecer a compreensão, a prevenção e o tratamento dessas doenças. “A longo prazo, as proteínas e vias que estamos descrevendo pela primeira vez podem passar a ser alvos para medicamentos ou até modulações que pudessem vir a prevenir a microcefalia e outras malformações neurológicas em mães infectadas por Zika”, diz.

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