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De onde vem o som? As influências por trás das artistas do pop brasileiro atual
As cantoras seguem lógicas mercadológicas semelhantes, buscando constantemente se alinhar às tendências do cenário musical contemporâneo.
Aysha Quezado
Marina Sena, Anitta e Ludmilla nas performances de seus álbuns mais recentes. Foto: Reprodução.

Com capa experimental e nostálgica, estética setentista e sonoridades que vão do reggae ao universo do brega, o novo álbum de Marina Sena, Coisas Naturais, parece oferecer pistas para uma pergunta essencial sobre o pop nacional: de onde vêm as referências que moldam as músicas das nossas artistas atuais?

Inicialmente influenciada por um pop repleto de MPB, pagode baiano, batidas extraídas do funk e fragmentos de samba e rock, Marina vinha trilhando uma identidade sonora que dialogava com artistas como Gal Costa, Marisa Monte, Rita Lee e Tulipa Ruiz. No entanto, seu novo disco aponta para uma experimentação com gêneros mais atuais do mercado.

Outras cantoras do ramo, como Anitta e Ludmilla, seguem lógicas mercadológicas semelhantes, buscando constantemente se alinhar às tendências do cenário musical contemporâneo.

 

MARINA SENA

Lançado em 31 de março, Coisas Naturais é o terceiro álbum solo da cantora, sucedendo De Primeira (2021) e Vício Inerente (2023). O hit estrondoso de 2021, “Por Supuesto”, chegou a entrar na parada Viral 50 Global do Spotify, misturando batidas tropicais de axé e reggae ao glam rock da guitarra.

Faixas de seu primeiro álbum, como “Me Toca” e “Voltei pra Mim”, evidenciavam uma MPB sensualizada que remete ao estilo de Gal Costa — uma marca que se consolidaria na trajetória de Marina. De forma geral, a produção de seu disco de estreia apresentava uma sonoridade mais crua e orgânica, com uma atmosfera tropical e romântica, marcada por sons de violão, percussões leves e diversos elementos nordestinos.

 

Da esquerda para a direita, Gal Costa e Marina Sena juntas para gravação em estúdio. Foto: Alile Dara Onawale

 

O pop tropical em mutação

Se o axé de sua primeira produção evocava o verão baiano dos anos 2000, agora Marina flerta com a psicodelia no terceiro capítulo de sua carreira solo. A cantora mantém vínculos com estilos musicais abrasileirados, como o funk carioca, o brega, o samba-rock e a MPB, mas também experimenta novos gêneros e estéticas.

Entre eles, destacam-se elementos do pop psicodélico e dos afrobeats, presentes em faixas como “SENSEI”, “Desmistificar” e “TOKITÔ”, aproximando-se de artistas como Duda Beat, FKA Twigs e Björk. Em entrevista à Revista Veja, a cantora explicou sua necessidade de reinvenção musical: “Tive que buscar a inocência do começo para criar sem tantas afetações do sucesso, do dinheiro, de São Paulo.”

 

 

ANITTA

Enquanto Marina aposta na reinvenção, Anitta mira na reconexão com suas raízes. A rainha do pop brasileiro marcou o ano de 2024 com dois grandes álbuns: Funk Generation e Ensaios da Anitta. Os discos inovaram o cenário da música brasileira ao levar essas sonoridades para uma abordagem global, incorporando elementos modernos do pop sem perder a essência do proibidão dos anos 2000.

Apesar de ambos serem carregados de ritmos nacionais, eles apresentam propostas distintas. Enquanto o primeiro, cantado em inglês, português e espanhol, é dominado pelo funk carioca e pelo pop eletrônico internacional, o segundo parece ser mais voltado ao público brasileiro, com parcerias com artistas nacionais e a presença de outros gêneros populares, como o brega romântico com Rogerinho, o axé com Ivete Sangalo e o funk com MC Livinho.

 

Funk Generation e Ensaios da Anitta também têm estéticas visuais diferentes. Foto: Richie Talboy; Reprodução Instagram

 

Do gueto ao Grammy

Além do funk carioca — influenciado por nomes como MC Marcinho, MC Sapão, Tati Quebra Barraco e Bonde do Tigrão —, Anitta também incorpora referências da música latina e do pop internacional em suas produções. Suas inspirações vão de divas como Beyoncé e Rihanna aos clássicos do reggaeton, como Daddy Yankee e Maluma, utilizando fusões que também remetem à ousadia experimental da espanhola Rosalía.

Um dos resultados dessa mistura é “Mil Veces”, faixa do álbum Funk Generation, gravada em espanhol. A música combina batidas eletrônicas com a energia do funk raiz, e seu impacto foi reconhecido internacionalmente: venceu o MTV Video Music Award de Melhor Vídeo Latino e foi indicada ao Grammy Latino na categoria Gravação do Ano.

 

 

LUDMILLA

Já Ludmilla se firma como uma das vozes mais versáteis do cenário nacional. A cantora, conhecida inicialmente como MC Beyoncé, começou sua carreira no funk de comunidade, com a batida marcante dos anos 2000. Com o tempo, passou a adaptar o gênero para uma estética mais pop, incorporando elementos de samba, pagode, R&B, reggaeton e trap — o que contribuiu para sua projeção internacional.

Em sua fase mais recente, Ludmilla mergulhou de vez no pagode romântico e no samba com a sequência Numanice #3 (2024). O álbum traz referências a artistas clássicos do gênero, como Arlindo Cruz, Thiaguinho e Belo, mas também conta com colaborações que expandem suas fronteiras sonoras: o rap com Veigh, o sertanejo com Mari Fernandez e o pop com Carol Biazin.

 

Numanice #2 também contou com muito pagode e samba. Foto: Reprodução

 

Entre o samba de roda e o beat internacional

Contrastando com esse projeto, seu álbum anterior, VILÃ (2023), mergulha no universo do trap, R&B, pop e funk carioca. Um dos destaques da produção é a faixa “Sou Má”, que utiliza um sample de “NICE”, de The Carters (Beyoncé e Jay-Z), evidenciando a forte influência de Beyoncé na carreira de Ludmilla. O disco também conta com colaborações de Tasha & Tracie, Tropkillaz, Stefflon Don e DJ Gabriel do Borel.

Ainda falando em versatilidade, Ludmilla também se destacou com o single “No_se_ve.mp3”, em parceria com Emilia e ZECCA, que já acumula mais de 270 mil reproduções no Spotify. A faixa, bilíngue em português e espanhol, mistura batidas do funk com elementos de reggaeton e música eletrônica.

 

 

Do samba ao pop rock, passando pelo funk proibidão e pelo reggaeton caliente, o pop brasileiro atual é uma colcha de retalhos — ou melhor, de batidas — que mistura experimentação e jogo de cintura na busca pelo equilíbrio perfeito entre essência artística e reconhecimento no mercado da música. No fim das contas, são as vozes femininas que continuam guiando o ritmo da reinvenção musical do país.

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