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Mercado Central: vendedor de revistas antigas guarda a memória brasileira há 10 anos
Em entrevista ao Site Miséria, ele falou sobre os hábitos de leitura de romeiros e juazeirenses, sobre o encerramento das atividades da poderosa Viação Brasília e sobre a importância de não depender de um patrão. É um guardião da memória bem no meio da cidade.
Sarah Gomes
Foto: Sarah Gomes

O Mercado Central de Juazeiro do Norte guarda mais de 40 anos de história. O comerciante Arnaldo Casimiro é um personagem vivo. Quem passa por uma das muitas entradas da rua São Paulo dá de cara com o box do Arnaldo, que trabalha há cerca de 10 anos no local.

Em entrevista ao Site Miséria, ele falou sobre os hábitos de leitura de romeiros e juazeirenses, sobre o encerramento das atividades da poderosa Viação Brasília e sobre a importância de não depender de um patrão. É um guardião da memória bem no meio da cidade.

Sem patrão

“São 10 anos vendendo livros e revistas usados”, conta o comerciante. Arnaldo foi convidado a trabalhar no Mercado Central por Jardel Novaes em 2009. Na época, o irmão mais velho de Jardel havia falecido e proprietário do box precisava se mudar para o município de Aurora e cuidar dos negócios da família.

Arnaldo não só aceitou o convite como também não se arrepende. “O que eu tenho na minha vida eu consegui vendendo essas coisas”, conta. Foi com o trabalho no Mercado Central que comprou a casa em que mora e criou as duas filhas. Para o comerciante, depender de um patrão não vale a pena. “Quando você trabalha para os outros você fica muito dependente e você fica sem fé em você mesmo”, declara.

Foto: Sarah Gomes

O homem trabalhou durante algum tempo na Viação Brasília, antiga empresa de ônibus com rotas intermunicipais na região. Lembra que atuou nas linhas Aeroporto, Parque Antônio Vieira, Juazeiro-Barbalha, Juazeiro-Crato e Juazeiro-Missão Velha.

Livros

A empresa foi fundada em 1958 pelo empresário Raimundo Ferreira e encerrou as atividades em 20 de novembro de 2009. Arnaldo conta que uma das filhas do empresário morava em Paris e montou uma biblioteca na empresa com livros em francês. Com o encerramento das atividades, Arnaldo conseguiu encher “dois carrinhos de mão” com livros como “A evolução das espécies” e obras de Jacques Cousteau. Todos foram vendidos.

Arnaldo não é um leitor assíduo e precisou aprender na prática do ofício quais livros eram os mais procurados. O comerciante conta que em Juazeiro do Norte os exemplares mais procurados são os de oração, de interpretação de sonhos e romances como os da coleção Sabrina. Entre os romeiros que visitam o Mercado Central o que mais vende é cordel, que custa R$ 3,00.

Brasil nas revistas

As revistas antigas também têm uma boa saída. O comerciante é conhecido por vender exemplares de Cruzeiro e Manchete a partir de R$ 4. Contudo, a revista mais cara que já vendeu foi um exemplar raro da 1ª edição de Tex, uma história em quadrinhos sobre bang-bang. A edição, que era de 1977, foi vendida por R$ 100.

Posteriormente, até a atriz global Glória Menezes participou de um momento importante dessa história. Há alguns anos Arnaldo chegou a adquirir 200 edições da revista Manchete das décadas de 1950 e 1970. Entre eles estavam a edição nº 857, de setembro de 1968. A capa era estampada pela atriz Glória Menezes e seu primeiro marido, Carlos Alberto.

“Uma senhora que ia passando viu, ficou impressionada, não queria acreditar que era verdade e comprou para mostrar a outras pessoas”, lembra.

Foto: Sarah Gomes

Queda

Por fim, uma pesquisa recente de maio do ano passado da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fiep), apontou que as vendas de livro no Brasil caíram cerca de 8,84% em relação a 2018. Arnaldo conta que as vendas de livros e revistas diminuíram bastante nos últimos 10 anos. “Quando eu vim pra cá o pessoal procurava mais”, lembra.

Ademais, para complementar a renda, o comerciante vende outros artigos, como facas de cozinha e faz trabalho de caligrafia, com gravação em placas de metal, madeira e em convites.

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