Prestes a deixar o cargo de chefe do executivo do estadual, Izolda Cela (sem partido) foi a primeira mulher a ocupar o posto de governadora do Ceará. A professora de 61 anos chegou a posição em 2 de abril deste ano, após Camilo Santana (PT) deixar o cargo para concorrer a uma vaga no Senado Federal. Izolda deixa a governadoria, mas não deixa o campo da política, e já se prepara para assumir a secretaria executiva do Ministério da Educação, em Brasília. 

A carreira de Maria Izolda Cela de Arruda Coelho no campo da atuação política já dura mais de 20 anos. O seu primeiro cargo foi o de secretária adjunta de educação da cidade de Sobral, em 2001, na gestão do então prefeito da cidade, Cid Gomes (PDT). Dois anos depois, Cela saltou para o comando da educação do município, na gestão de Leônidas Cristino (PDT), função que ocupou até 2006. 

Quando Cid Gomes foi alçado ao Palácio da Abolição, derrotando Lúcio Alcântara (PSDB), também em 2006, ele convidou Izolda para viajar para Fortaleza e assentar-se enquanto Secretária Estadual de Educação (Seduc), sendo uma das mais longevas gestoras a ocupar o cargo. Cela esteve na pasta por mais de sete anos, deixando a Seduc apenas em 2014, quando concorreu, junto com Camilo Santana (PT), ao governo do Estado do Ceará. 

Izolda Cela ao lado do ex-governador Camilo Santana. Foto: Reprodução Twitter. 

A chapa foi eleita em 2014 e reeleita em 2018, neste período a hoje governadora exerceu as funções de vice. E atuou fortemente em programas que buscavam ampliar a qualidade do ensino no estado e diminuir o impacto da violência social. Ela esteve muito próxima de ações como o Pacto por um Ceará Pacífico e o Programa Integrado de Prevenção e Redução da Violência (PReVio), além do Projeto Virando o Jogo, com foco em jovens de 15 a 19 anos que não estudam ou trabalham.

Izolda e a Educação 

Reconhecido internacionalmente como um caso de sucesso, a transformação da educação pública do Ceará foi realmente adotada como política de Estado. E parte significativa desse processo de crescimento e reconhecimento passou pelas mãos de Izolda Cela, desde o processo embrionário desenvolvido em Sobral, até a consolidação do ensino de nível estadual. 

Enquanto esteve à frente da Secretaria de Educação do Estado, Izolda reformulou o Programa de Alfabetização na Idade Certa (Paic), concretizando-o como política pública de nível estadual. Nessa linha, o projeto alinhava estado e municípios no mesmo intuito: alfabetizar os estudantes da rede pública até o 2° ano do ensino fundamental.

O Paic, reformulado pela então secretária, foi a base para construção do Pacto Nacional Pela Alfabetização na Idade Certa (Pnaic), que objetiva alfabetizar todas as crianças com até oito anos de idade ao final do 3° ano do ensino fundamental. O Pnaic é coordenado pelo MEC, e trata-se de um acordo assumido por todas as unidades da federação. 

Governadora participa de evento do Paic na cidade de Fortaleza. Foto: Thaís Mesquita. 

Ainda durante seu período na Seduc, Izolda lançou o Mais Paic, que estendia o programa para todas as turmas de educação infantil e para estudante até o 5° ano do ensino fundamental. Estudos feitos por pesquisadores brasileiros, chilenos e franceses apontaram que o Paic reduziu a desigualdade e aumentou o nível de aprendizagem. 

De acordo com o estudo, em 2007 apenas 39,9% das crianças da rede cearense terminavam o 2° sabendo ler, em 2019 esse número saltou para 92,7%. Dados do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), e divulgados neste ano, também apontam que entre as 100 melhores escolas públicas do país, 87 são cearenses. Com Izolda também cresceu a aposta no ensino médio integral. Hoje o Ceará conta com 261 escolas neste modelo, uma das redes mais sólidas do país. 

A disputa pelo Palácio da Abolição 

Na corrida eleitoral de 2022, a atual governadora acabou preterida dentro de seu grupo político, mesmo deixando expresso o seu desejo de concorrer à permanência no cargo. Izolda, que era filiada ao PDT, viu sua legenda apostar em Roberto Cláudio, ex-prefeito de Fortaleza. Esse contexto também gerou o rompimento da aliança que havia entre PT e PDT no estado, fazendo com que ambos indicassem candidatos. 

A governadora optou por manter-se ao lado de Camilo Santana (PT) e fez campanha abertamente para o candidato vencedor, Elmano de Freitas (PT). O histórico da ex-petista a colocou entre as mais cotadas para o Ministério da Educação, e apesar de não assumir a titularidade da pasta, a nomeação de Camilo para chefia e dela para a posição subsequente são um expressivo reconhecimento do sucesso da educação básica cearense. E de modo inconteste, parte desse sucesso deve ser creditado a ainda governadora.