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Dia do Saci: o símbolo brasileiro que desafia o Halloween
Mais do que uma simples data, o Dia do Saci é um convite para revisitar e preservar a identidade cultural do Brasil, reafirmando o valor das lendas e tradições que compõem o imaginário popular.
Nathalie Fernandes
Saci Pererê, símbolo do folclore brasileiro.
O ator Romeu Evaristo caracterizado como o Saci, na versão do Sítio do Picapau Amarelo exibida entre 1977 e 1986. | Foto: Reprodução.

Enquanto em diversos países o dia 31 de outubro é marcado por fantasias de monstros, doces e o famoso “trick or treat” do Halloween, no Brasil, essa data também reserva espaço para uma celebração tipicamente nacional: o Dia do Saci-Pererê. A proposta de homenagear o personagem do folclore brasileiro é uma forma de reafirmar nossas raízes culturais diante da crescente influência estrangeira, especialmente da cultura norte-americana.

O Saci-Pererê, figura presente no imaginário popular de várias gerações, é um símbolo da mistura de tradições indígenas, africanas e europeias — uma síntese da própria formação do povo brasileiro. Astuto, brincalhão e por vezes travesso, o Saci habita as florestas e costuma pregar peças em viajantes e trabalhadores rurais, representando, ao mesmo tempo, a esperteza e o humor característicos do povo brasileiro.

O menino do gorro vermelho

Segundo a lenda, o Saci é um menino negro, de uma perna só, que se locomove girando em redemoinhos e saltando com agilidade. Usa sempre um gorro vermelho, de onde vem boa parte de seus poderes mágicos, e costuma fumar um cachimbo de barro. É conhecido por esconder objetos, assustar animais e trançar as crinas dos cavalos durante a noite.

Ator Fabrício Boliveira interpretando o Saci.

Fabrício Boliveira como Saci.| Foto: Reprodução/Youtube

Sua origem remonta à tradição indígena, na qual o Saci era um protetor da mata. Com o tempo, a figura foi se transformando com a influência africana e europeia, adquirindo traços de malícia e feitiçaria. Hoje, ele é um dos personagens mais conhecidos do folclore brasileiro, popularizado por escritores como Monteiro Lobato, que o eternizou nas histórias do Sítio do Picapau Amarelo.

Da lenda à lei: o nascimento do Dia do Saci

A data de 31 de outubro foi oficialmente instituída como o Dia do Saci em 2013, por meio do Projeto de Lei nº 2.479/2013, elaborado pela Comissão de Educação e Cultura da Câmara dos Deputados. O projeto surgiu como uma forma de valorizar as tradições brasileiras e propor uma alternativa cultural ao Halloween, que vinha se popularizando nas escolas e nos espaços públicos.

Antes disso, o Estado de São Paulo já havia saído na frente. Em 2004, por meio da Lei Estadual nº 11.669, a data foi incluída no calendário oficial paulista. A cidade de Botucatu, conhecida como a “terra do Saci”, tornou-se um polo de preservação da lenda, com festas temáticas, feiras, trilhas ecológicas e até a Associação Nacional dos Criadores de Saci, que organiza eventos e atividades voltadas à valorização do personagem.

Dia do Sacai Pererê é comemorado no dia 31 de outubro em São Luiz do Paraitinga, em São Paulo.

Comemoração do Dia do Saci em São Luiz do Paraitinga/SP. | Foto: Divulgação/Prefeitura São Luiz do Paraitinga.

A iniciativa paulista inspirou outras cidades, como São Luiz do Paraitinga, Guaratinguetá e Embu das Artes, que também passaram a promover celebrações voltadas ao folclore. Em muitos desses locais, o Dia do Saci é marcado por desfiles, oficinas, exposições e contação de histórias, reforçando o elo entre as novas gerações e o patrimônio imaterial do país.

Cultura nacional e globalização

A criação do Dia do Saci não é apenas uma questão de folclore, mas também de identidade cultural. Em um mundo cada vez mais globalizado, em que símbolos e tradições estrangeiras se difundem rapidamente pelas redes sociais e pela mídia, é fácil que manifestações culturais locais acabem sendo esquecidas.

A proposta da data é justamente o oposto: resgatar e valorizar o que é nosso, oferecendo às crianças e jovens uma oportunidade de conhecer as próprias lendas e personagens brasileiros. “Em vez de bruxas e gnomos, devemos celebrar as figuras que representam nossa cultura e nossa história”, defendia o texto original do projeto de lei.

O Saci como símbolo de resistência cultural

Mais do que um personagem folclórico, o Saci representa resistência, criatividade e humor diante das dificuldades. Ele é o símbolo da malícia popular, do riso diante do infortúnio e da habilidade de transformar o medo em brincadeira. Em um país de rica diversidade cultural como o Brasil, o Saci nos lembra que nossa própria mitologia é vasta e fascinante — basta olharmos para ela com o mesmo encanto que olhamos para as histórias estrangeiras.

Assim, o Dia do Saci vai muito além de uma simples data no calendário: é um convite à reflexão sobre a importância de preservar e divulgar o folclore brasileiro. Afinal, como diz o ditado popular, “quem não conhece sua história está condenado a repeti-la” — e talvez também a esquecê-la.

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