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Mulher

Izabely Macêdo

Jornalista formada pela Universidade Federal do Cariri (UFCA) e Social Media do Site Miséria. Neste espaço, me disponho a falar diretamente com as mulheres.

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Izabely Macêdo

Jornalista formada pela Universidade Federal do Cariri (UFCA) e Social Media do Site Miséria. Neste espaço, me disponho a falar diretamente com as mulheres.

Leitoras, eu preciso de vocês
Neste 8 de março desisti de fazer matérias sobre o Dia da Mulher. Mas uma situação vivida na redação do Site Miséria me levou a refletir sobre minha função enquanto jornalista. Mulheres, preciso que vocês leiam.

Certa vez, em uma das lives diárias do Miséria, estava em notícia o assassinato de uma mulher. Eu estava escalada para a produção do programa neste dia e uma das minhas funções era filtrar os comentários e destacar alguns para serem lidos. Embora o site tenha uma audiência majoritariamente feminina em todas as redes sociais, a maioria dos comentários são de homens. Isso me faz pensar sobre como nós mulheres nos sentimos desconfortáveis para expor nossas opiniões mesmo por trás de uma tela de celular. Lembro que na situação mencionada os comentários eram de solidariedade à família, e principalmente de revolta. No entanto, um chamou minha atenção e eu pedi que fosse lido. Em um misto entre depoimento e lamento, a leitora terminou o comentário com “o nosso maior perigo está dentro de casa e muitas vezes nós não sabemos”. 

Aquilo parecia uma faca entrando em meu peito. Não é fácil ser jornalista e trabalhar com esse tipo de notícia diariamente. Eu me sinto desconfortável em ler, em ver, em saber. Ossos do ofício. Um levantamento do Mapa da Violência, feito pela equipe do G1 com dados de todos os estados do Brasil, mostra que uma mulher é morta a cada 7 horas no Brasil. Foram 1.314 feminicídios no ano que passou. Feminicídio é crime de ódio ao gênero feminino, geralmente situado em ambientes domésticos. É sempre um namorado, um marido, um tio, um pai, um irmão, um filho. Acho que foi isso que a leitora quis dizer em seu comentário. Os homens, que convivemos dentro de casa, esses que pelos laços estabelecidos entregamos amor, são eles que nos matam. Eu me incluo porque não me sinto viva quando me choco com a realidade insegura que vivemos. Sinto que a qualquer momento pode ser eu e relembro situações que presenciei em casa.

Escrevo isso porque hoje novamente fui escalada, desta vez, para escrever sobre o 8 de março. Havia uma pauta à caminho, mas caiu, a entrevistada precisou remarcar. Isso me trouxe um incômodo enorme. Fiquei encarregada de pensar em algo que fosse a manchete da manhã. O complicado é que no Dia da Mulher as pautas são sempre as mesmas, apesar da complexidade inerente ao tema. Eu pensei em algumas coisas, comecei a desenvolver dois textos e desisti quando lembrei do comentário na live. Na iminência de amanhecer o dia e enviar meu texto para ser publicado, eu caí na real: nada do que eu estava escrevendo tinha o potencial de mudar, de fato, alguma coisa, poderia ser facilmente lido em outros veículos ou simplesmente ignorado – assim como em outros veículos. E aquele comentário voltou rasgando minha cabeça como um grito angustiante e fino. 

 

“As notícias e a forma de noticiar não são mais as mesmas e vocês, leitoras do Miséria, precisam de mais espaço para sentir que a voz lida parece com a de vocês.  Por isso, me disponibilizo a escrever sobre o que interessar para nós.”

 

Como eu disse antes, a maioria do público deste site é feminino, ainda que a voz nos comentários soe mais grossa e muitas vezes sejam o retrato do que nos fere diariamente. Neste 8 de março entrei nessa reflexão de ser uma jornalista, que o ofício é ser uma porta-voz, um intermédio entre algo e alguém. As notícias e a forma de noticiar não são mais as mesmas e vocês, leitoras do Miséria, precisam de mais espaço para sentir que a voz lida parece com a de vocês.  Por isso, me disponibilizo a escrever sobre o que interessar para nós. Sejam dúvidas, relatos de vidas, mulheres inspiradoras ou notícias que atinjam nossa singularidade. O importante é que se crie o hábito de encontrar um conteúdo que não nos reduza à morte e colabore para nos levar a um lugar melhor. 

Esse texto é o início de algo. Mas eu preciso ouvi-las. Comente com o que você quer que seja falado aqui, ou envie e-mail, mensagem no WhatsApp, Facebook ou Instagram. Aguardo vocês. 😉

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